Professor emérito da Unicamp, o físico Rogério Cézar de Cerqueira Leite é, aos 83 anos, um dos cientistas mais renomados de nosso país, além de membro do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia.
Também integra o Conselho Editorial da Folha, onde publicou no dia de ontem um artigo de opinião (primeiro caderno, página A3) que deveria ser objeto de leitura e reflexão por todos os que, bombardeados pelas campanhas publicitárias dos candidatos à presidência da República acreditam na capacidade administrativa de Aécio Neves, face aos expressivos resultados obtidos por seu choque de gestão.
Só que não.
O que leva o professor a dar ao seu artigo o sugestivo título de "O choque de indigestão de Aécio", cujo texto em destaque, transcrevo a seguir: "Do ponto de vista financeiro, o choque de gestão em Minas foi um fracasso tão grande quanto o foi do ponto de vista social. Mas Aécio não concorda."
No corpo do artigo, depois de iniciar fazendo referências ao documento com que o governo do Estado tece referências auto-elogiosas ao programa, o cientista se propõe a abordar as áreas tratadas como aquelas selecionadas para receberem os "investimentos destinados a melhorar a qualidade de vida das pessoas", a saber: saúde, educação, segurança.
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Inciando sua análise pela saúde, o professor revela que em termos do percentual de receita alocada ao setor, o estado mineiro ocupou apenas a 22ª posição, dentre todos os 27 estados da federação, o que representou metade do percentual dedicado a essa área por estados como Amazonas, Bahia, Pernambuco. Desempenho pífio, para dizer o mínimo.
Mas, segundo a conclusão do professor, que vai se transformar em um bordão de seu artigo, "Aécio não mente jamais."
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Na educação, o professor destaca a importância do choque de gestão o sucesso do governo no setor. Entretanto, revela que, em 2009, reservou para essa área prioritária o menor percentual dedicado no Orçamento de qualquer outro estado do país, salvo o Espírito Santo.
Naquele ano, o orçamento destinou metade dos recursos alocados, por exemplo, pelo Ceará, ficando atrás de estados mais pobres e menos desenvolvidos.
Mais uma vez, o professor conclui que "mas Aécio não mente jamais."
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Na segurança, o choque de gestão foi o responsável por uma elevação do número de ocorrências policiais de 69%, entre os anos de 2002 e 2008.
E, dos investimentos de 2004 até 2008, apenas 6,57% foram aplicados para a Educação, 8,78% em saúde, com minúscula mesmo; e apenas 6,87% em segurança.
Ao contrário e para mostrar o jeito aecista de governar, 77,8% dos gastos foram com a construção de obras monumentais, principalmente na Capital. Obras de grande visibilidade para o público mas, distante daquelas classificadas como de interesse imediato do cidadão.
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Por fim, o déficit do Estado, considerado alarmante em 2003 atingia o valor de R$ 2, 3 bilhões. A dívida pública que ao fim do governo Azeredo estava em 18, 5 bilhões, em 1998, disparou para R$ 56, 4 bilhões em 2009, enquanto os gastos com serviço da dívida se expandiram junto com a dívida, em mais de R$ 40 bilhões.
Um aumento de mais de 100%, no governo exemplar do melhor e mais reconhecido administrador público do país.
Em 2009, Minas passou à situação de terceiro Estado mais endividado em percentagem de seu Orçamento anual, ficando à frente apenas de Rio Grande do Sul e Alagoas.
Daí a conclusão já citada, como destaque do artigo: o choque foi um rotundo fracasso financeiro, tanto quanto o fracasso do tratamento dispensado às questões sociais.
E o professor encerra: "Mas Aécio não concorda e Aécio não mente jamais."
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Esse o retrato em números do candidato que está prometendo trazer previsibilidade; maiores investimentos e crescimento do país; e, de quebra, mais atenção e melhoria dos programas sociais que, bem ou mal, o governo Dilma conseguiu desenvolver.
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Tudo indicando que o voto melhor e mais consciente é aquele no tucano. Para síndico do aviário do zoológico, se não surgir outro tucano de plumagem mais vistosa e crível.
Mas, vá lá. A plumagem de Aécio merece respeito. Afinal, Aécio não mente jamais.
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