quinta-feira, 24 de março de 2011

Pitacos em relação à gestão econômica. E como o chef Palocci comanda as frituras no Planalto

Não raro, quando alguém assume algo que está além de sua área de competência, ou mete os pés pelas mãos ou, como todo e qualquer time pequeno de futebol, corre para jogar na defesa, bem retrancadinho.
Uso a métafora futebolística do ex-presidente Lula, para tratar de algo de que o ex-presidente foi o responsável: a transformação do médico e político Palocci em Ministro da Fazenda. Cargo que exige, minimamente, um conhecimento em Economia.
Jogando na retranca, Palocci não ousou e fez uma gestão bastante chinfrim, fundada nos manuais de macroeconomia e na ortodoxia mais ordinária (no sentido de comum) recomendada pelo pensamento econômico convencional.
Trocando em miúdos, a taxa de crescimento média do PIB foi tão medíocre em sua gestão quanto era no governo de FHC, a cuja política econômica ele apenas deu prosseguimento e aprofundou, quando quis se mostrar original.
Dizem que teve como benefício organizar as finanças públicas e resgatar o prestígio do Tesouro, que passou a ser visto como um devedor crível e com nível de risco de default bastante reduzido.
Pudera. Elevando os juros como Palocci o fez, e mantendo seu arsenal todo focado na adoção da política monetária, se conteve e controlou a inflação, também agradou ao mercado. E agradou tanto, premiando-os com elevadas remunerações, que passou a ser considerado pelo mercado com seu guru.
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Espertamente, como sempre, o mercado, o incensou, para poder fazer com que ele acreditasse em sua capacidade de gerir a economia. E, dando corda para que ele depois se enforcasse, apoiou, financiou. Claro, tudo sem perder de vista os gordos lucros que os juros estratoféricos projetavam.
Transformado em guru, o ministro cedeu, como qualquer ser humano vaidoso e mortal o faria e passou a acreditar que, de fato, sabia e conhecia - ou domina a ciência econômica (se é que alguém a domine, essa ciência feminina tão volúvel e inesperada como todo ser feminino tende a ser).
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Não é que agora, passados quatro anos de economia brasileira crescendo e adotando políticas menos ortodoxas, com juros ainda elevados, mas em tendência declinante - ao menos na maior parte do período-, o Ministro da Casa Civil, acredita ser o homem capaz de servir de intermediário do governo junto ao mercado e adota um comportamento que, na melhor das hipóteses, apenas revela que, sem o perceber, transformou-se no porta-voz dos interesses desse monstro sem face?
E acredita que pode usar um discurso conciliador e tranquilizador junto ao mercado, capaz de assegurar que a política econômica voltará a trilhar o leito em que o ministro se habituou a observá-la, de combate à inflação, redução do crescimento e ... juros.
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Ataboalhoado ou não, contraditório ou não, falando mais que o necessário, mesmo que bem intencionado, ainda sou mais a gestão empreendida pelo Ministro Mantega. Que além de ser do ramo, mostrou competência para gerir a crise e fazer o Brasil voltar a redescobrir sua vocação desenvolvimentista. Vocação que tantas vezes tentaram abafar, inutilmente.
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Quanto a Tombini, funcionário de carreira do Banco. Com um nome e  uma tradição de formação acadêmica a zelar, está atento e, como tal, cumprindo a cartilha e as normas que o mercado insinua como sendo as necessárias, aceitáveis e toleráveis.
Nesse sentido, vem fazendo bem o dever de casa, como qualquer menino bem comportado o faria.
Mas, se se submete realmente, formalmente fala grosso, adotando uma postura que se deseja mais independente.
E dá-lhe medidas prudenciais, que são um custo para o setor financeiro. Ao menos no discurso. Embora esteja sempre adotando a política de compensação ao mercado, via elevação dos juros.

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