segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Superávit primário, déficit nominal, dívida pública, os números de 2010

Divulgados os números do orçamento fiscal de 2010.
Os valores principais indicam que em dezembro, o déficit nominal atingiu 8,683 bilhões, totalizando 93,7 bilhões ao longo de todo o ano.
Déficit nominal significa o montante que o governo arrecadou de impostos, menos seus gastos para funcionamento, menos gastos de transferências, inclusive aquelas relativas a pagamento de juros e serviço da dívida pública.
Ou seja: o valor que o governo teve de tomar emprestado, ou que ele necessitou financiar, para poder pagar todos os compromissos do ano passado.
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Outro dado importante é o superávit primário obtido, no total de 101,7 bilhões, arredondando. Isso representou 2,78% do PIB, o que significa que o governo não alcançou a meta a que se propôs atingir.
É comum que os órgãos de imprensa definam o superávit primário, como a quantia que o governo economizou para pagamento de juros.
Em 2010, a economia de 101,7 bilhões, não cobriu o valor de pagamento de juros, que foi de 195,369 bilhões.
Daí a explicação para o déficit nominal acima, de 94 bilhões.
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A dívida pública líquida alcançou 1 trilhão e 476 bilhões de reais. 40,4% de toda a riqueza gerada no país.
Também acima do limite que o governo estabeleceu como meta.
Passados os números, vamos a alguns breves comentários que, mesmo ligeiros, exigem que o leitor tenha paciência para ler um texto mais longo.
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Primeira observação: embora o governo central (Tesouro Nacional, somado ao resultado do Banco Central e da Previdência) tenha obtido superávit primário ao longo de 2010, esse resultado pode ser explicado por receitas que são extraordinárias, como a contabilização de recursos do processo de aumento de capital da Petrobrás. Como já explicado, enquanto o governo, para manter o controle acionário e até aumentá-lo gastou 43 bilhões, integralizando capital, recebeu em troca 75 bilhões a título de cessão onerosa de barris A SEREM AINDA EXPLORADOS.
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Além dos 32 bilhões, o governo contabilizou também perto de 3,5 bilhões recebidos do BNDES, a título de aquisição de dividendos a serem pagos pela Eletrobrás. Na operação, o Banco ficou com o passivo da estatal.
A esses valores, agregam-se ainda 6 bilhões relativos a depósitos judiciais, sendo que 4 bilhões deles, da CEF. Trata-se de dinheiro para cumprir a obrigação tributária e resguardar direitos, enquanto o depositante discute judicialmente a legalidade do pagamento ou não. Ou seja: se é devido o valor.
Esse dinheiro, que é depositado na CEF, foi transferido ao Tesouro no final do exercício. E terá de ser devolvido aos agentes depositantes, caso a obrigação seja considerada nula (especialmente, de caráter tributário).
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Como em dezembro, embora o governo central tivesse gerado superávit primário, o mesmo não se deu com as contas de estados e municípios, que ficaram deficitários (maior déficit dos Estados que dos municípios), o superávit primário para o ano não atingiu mais que 2,78, para uma meta de 3,1% do PIB.
Para cumprir a meta, o governo usou o ardil de mudar a contabilização de gastos feitos em obras do PAC.
É o segundo ano consecutivo que o governo usa desse artifício, permitido pela legislação.
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Em síntese: foi atendida ao fim das contas o resultado primário proposto. Mas, do ponto de vista das tendências, o que se vê é que as contas foram fechadas em 2010, mas não há muita chance de o mesmo se repetir em 2011. Isso porque não dá para ficar fabricando receitas a cada ano, ainda mais em valores tão elevados.
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Mas, dizia que os órgãos de imprensa definem o superávit primário como a economia (o não gasto!!!) que o governo faz para pagar os juros da dívida.
E qualquer pessoa sabe, mesmo aqueles que não sabem coisa alguma, que economizar e cortar gastos impõe fazer sacrifícios.
O que não é dito é que isso não é verdadeiro para o governo, que não é uma pessoa. O que implica que quem faz o sacrifício é aquele ou aqueles agentes que o governo deve representar: o povo.
O povo que paga impostos ditos escorchantes.
Nesse caso, cortar gastos é não dar educação, é não dar saúde digna. É não melhorar as condições de tráfego das estradas. É não fazer a conservação e melhoria de trechos ou não duplicar pistas, como no caso do Anel de Belo Horizonte, ou da BR 381, a famosa rodovia da morte.
Ao mesmo tempo, é também não pagar um valor minimamente digno para os profissionais da área da Saúde (um médico recebe para uma cirurgia cardíaca próximo a 70 reais!!), para os professores, ou para funcionários públicos como policiais (que acabam descambando, premidos por suas necessidades, para o crime que eles deviam combater), ou para outros funcionários públicos, responsáveis pelo atendimento, sempre de péssima qualidade ao povo (a qualidade, resultado da má remuneração e das preocupações que o funcionário carrega para que o governo faça economia).
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E, para onde vai toda a economia? Para pagar juros. Para pagar transferências, que representam aproximadamente 2/3 do total da carga tributária bruta que o governo arrecada.
Quem tiver interesse em ler, recomendo o excelente texto de Márcio Pochmann, presidente do IPEA, que pode ser visto no site abaixo, entre outros: www.blogcontabil.com.br/2008/10/o-mito-da-tributacao-elevada-no-brasil/
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Nesse trabalho, o autor mostra que de 36% do PIB, apenas 12% se transformam em carga tributária líquida, recursos para o governo gastar a sua discrição.
O restante, é pago em transferências: parte a subsídios e isenções, a empresas e empresários; parte a transferências sociais, como os programas de bolsa família, e outros de assistencialismo e parte, a maior, pagamento de juros.
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Então: é como se o povo que paga impostos tivesse de deixar de ter direito a saúde, educação, segurança, e até um atendimento de qualidade, para poder assegurar que os (mais) ricos possam ter certeza de receber o que lhes é devido.
Total inversão de prioridades: não se poupa para melhorar a vida do povo, no futuro, como qualquer pé de meia. Mas para pagar aos muito ricos.
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Dada uma dívida de 1,5 trilhão, para facilitar a conta, o que dizer de uma taxa de juros de 11% ao ano, como a nossa SELIC?
Dá, folgado, 165 bilhões de juros, pagos apenas pelo governo central. (em 2010, essa cifra foi de 124,5 bilhões).
A curiosidade é que o governo que paga, é também o agente que define o quanto vai pagar. Ele é que aumenta as taxas de juros (alegando combater a inflação), para gastar mais com juros pagos aos setores que têm para financiar a ele, governo.
Tudo via COPOM e BC, as agências reguladoras e capturadas pelos interesses dos mercados financeiros.
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E pior: a previsão do mercado é de juros a 12,25% no final do ano.
E como não há nada no mundo suficientemente ruim que não possa piorar mais: hoje, os sites (vide o portal Terra, por exemplo) anunciam que o BC (capturado ou falando como porta-voz?) já prevê aumento de inflação para o ano.
Logo: não está afastado um aumento ainda maior de juros, para esse 2011.

Novos Deputados e, de novo o assunto Tiririca

Quem me acompanha desde o início sabe que sempre fui favorável à eleição e diplomação de Tiririca. Como sou favorável a que, em um país com a percentagem de analfabetos que nosso país insiste em manter, seja criada condição, sempre de se assegurar que essa parcela da população seja representada por excelência.
Trocando em miúdos: creio que, para representar um analfabeto, e poder expor suas agruras e suas expectativas, só mesmo sendo um analfabeto.
Doutores, como sempre foi tradição em nosso país, não há mais quem duvida, só representam os letrados, iluminados e que tais.
E, se o percentual de analfabetos funcionais em nosso país é, de longe, o que melhor representa a grande maioria de nossa população e nosso eleitorado, então, dá-lhes Tiririca.
E, sem qualquer preconceito, sempre manifestei minha opinião de que a perseguição feita ao artista circense era um desatino, para falar o mínimo. Um doutor (procurador), quem sabe querendo pegar carona na fama e na esmagadora votação que tornou Tiririca o deputado mais votado no país, nesse ano de 2010.
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Mas, daí a Tiririca, que toma posse amanhã junto a seus novos colegas, contribuindo para a renovação de 60% das bancada, querer fazer parte da Comissão de Educação e Cultura da Câmara, vai uma distância muito grande.
Uma coisa é representar do plenário, nas votações. É representar o povo que o elegeu nos discursos, do pinga-fogo, ou na apresentação de propostas.
Bastante diferente é participar da Comissão que analisa, tecnicamente, os projetos que os nobres deputados propõem.
Tiririca pode sim, ter várias propostas. Pode e deve apresentar vários projetos. E defendê-los com unhas e dentes, até mesmo prestando depoimentos e fazendo argumentação oral, em plenário ou na própria Comissão.
Mas, a César o que é de César. Vamos deixar as vagas da Comissão para aqueles que têm atuação mais próxima, e experiência maior, na área da Educação e até mesmo da Cultura.
Claro: é na cultura que se encontra a principal experiência do palhaço. Mas, a Cultura que temos que discutir naquele foro é, sem dúvida, bem mais ampla e abrange um universo que Tiririca, a princípio, parece não dominar.

A melhor coisa ontem, em Montes Claros

TORCIDA DO GALO

Chora e ri
grita e assobia
vaia na tristeza
canta na alegria
segue na derrota
sofre na derrota
Vibra com a glória
alcançada na vitória
Luta, briga
xinga, é passional
mas obedece piamente
em qualquer tempo da vida
o baluarte alvi-negro
a tradição do clube amigo
e de todos conhecido
Clube Atlético Mineiro
das Gerais o mais querido
Acompanha, adora
paga o que não pode
num jogo de decisão
levando a mão no dinheiro
contado da condução.
mas se anima, reanima
vendo um jogo de seu time.
Nele esquece suas mágoas
recalques, decepções
nele exulta em alegria
satisfaz com as emoções
Participa, empurra
leva o time no embalo
é a maior torcida do mundo
é a torcida do GALO.

Noites de céu sem nuvens

À NOITE

                                   Na calada da noite
                                   infinita, misteriosa
                                   paira intrépida dúvida
                                   atroz, aterrorizante
                                   feroz ...
                                   Na calada da noite
                                   com segredos infernais
                                   levanta-se o cantor
                                   a cantar versos ricos
                                   à lua prateada
                                   transparente, translúcida
                                   cálida...
                                   E a lua vence
                                   com a calma de seu olhar
                                   a ferocidade e o negrume
                                   das trevas da noite,
                                   inspirando o lirismo
                                   do poeta ...

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Quebrando a informação: a análise do resultado da conta pública

Gerado o resultado positivo de 78,9 bilhões, já comentado para o governo central relativo a todo o ano de 2010, assinalamos que esse resultado se deveu, especialmente aos valores do mês de dezembro, quando até a Previdência deu superávit, embora fosse deficítária para todo o exercício fiscal.
Parte da explicação do comportamento de dezembro, pode ser vinculada à antecipação do pagamento de 13° para pensionistas e aposentados.
Outros fatores importantes relacionam-se à melhoria da arrecadação, seja pela expansão do volume de emprego (dezembro apresentou taxa de nível de desemprego reduzida em níveis recordes), seja pelo aumento da formalização das relações de trabalho, seja por ser um mês com duas datas para o recolhimento de contribuições previdenciárias, para trabalhadores como empregados domésticos, e outros.
Por seu turno, o resultado para todo o ano foi negativo em 42,9 bilhões.
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Comportamento semelhante foi apresentado pelo Banco Central, que apresentou déficit de perto de 520 milhões no ano, mas teve um dezembro positivo de cerca de 153 milhões.
No caso da Autoridade Monetária, parte da explicação do déficit está ligada à receita auferida pelos títulos mantidos em sua carteira, confrontada com os rendimentos que deve pagar aos portadores de títulos de sua emissão. Inclui-se aí, as operações de swap e operações de câmbio, além das contas tradicionalmente atreladas às necessidades de seu funcionamento.
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Por fim, ao resultado obtido pelo governo central, deve-se acrescentar outros resultados como o proveniente das contas de estados e municipíos, para chegar-se ao resultado total do orçamento primário, cuja previsão é um superávit de 3,3%.
É esse resultado total que deverá ser anunciado na próxima segunda feira.

A informação: o valor do resultado das contas do governo central

Arno Augustin, Secretário do Tesouro Nacional, informou hoje na parte da manhã, o resultado das contas do governo central, que inclui Tesouro, Previdência e Banco Central, para o ano de 2010.
Especialmente devido ao resultado auferido em dezembro, que apresentou superavit primário de 14,4 bilhões de reais, a conta para o ano de 2010 fechou com valor positivo de 78,9 bilhões, ou 2,16% do PIB.
Em dezembro, até a Previdência apresentou superávit, de 3,5 bilhões, fazendo com que o seu déficit para 2010 ficasse em torno dos 42,9 bilhões.
Ao anunciar o resultado, o Secretário justificou com o recebimento de pagamentos de tributos antigos e aumento de lucros das empresas, embora a explicação real seja vinculada à geração de receita extraordinária, vinculada ao processo de capitalização da Petrobrás, em busca da obtenção de recursos que permitam que se realizem os investimentos necessários à exploração do pré-sal.
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Como se recorda, pelo processo de aumento de capital que culminou em setembro, a União faria à companhia a cessão onerosa do direito sobre barris de petróleo, avaliados em 75 bilhões. Por seu lado, desse total a União, para manter e ampliar sua parcela de participação no controle acionário da Petrobras integralizaria um capital de 43 bilhões.
A manobra permitiu a geração de receita para os cofres da União de 32 bilhões de reais, ampliando o superávit e alimentando e reforçando as expectativas para o cumprimento da meta de superávit primário para todo o orçamento no decurso de 2010 (objeto de anúncio a ser feito na próxima segunda, dia 31).

O ouro do silêncio

SÁBIO

Silêncio reprovador
recôndito surge
sabedoria ilustre
nada revela,
nem debate problemas
escuta apenas
condoído, o saber
dolorido de saber
Ouve silencioso
nada clama
analisa o imbecil.

A respeito de .... fofoca

FOFOCA

Fofoca
a maledicência trágica
na boca do povo
na língua ferina
das reuniões dos homens.
Fofoca
o lodo revolto
sem intenção aparente
ilusão!...
Fofoca
o monstro da inveja
agindo sem rédeas
o negrume do ciúme
à solta...
A intenção do dolo
uma brincadeira inocente                  
um boato difamante                            
Fofoca
maldição dos homens

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Revendo o Galo e o seu futebol.

Embora o resultado foi muito ruim, para um reencontro tão ansiado pela torcida, e o time mostrou que ainda está longe de encher os olhos da massa, gostei.
Gostei de Jobson e sua velocidade, e sua disposição de tentar partir para a frente, na técnica ou na raça, à base de trombadas, como o lance que originou o gol de Ricardinho.
Gostei de Patric, bem mais lúcido e com mais gana de ir à frente que Rafael Cruz. Achei que, ao entrar no ritmo, poderá ser um lateral bastante útil para o time. Capaz de suprir a carência de um jogador para aquela posição desde a saída de Cicinho.
Gostei de ver a reestréia de Mancini, vestindo a gloriosa. Mais experiente, mais consciente. Mais lúcido, tentando jogadas e chutes de fora da área, lances de que o Atlético se ressentiu na primeira fase.
Renan Oliveira não foi mal, tentando a armação de jogadas em toques rápidos.
***
Quanto a Richarlyson, mostrou na sua estréia que, como eu esperava foi a maior contratação para a temporada. Como sempre, voluntarioso, habilidoso, firme, fazendo jogadas viris e, curioso, jogando tão bem, em minha opinião, foi o jogador envolvido, de forma azarada, no lance de que redundou o gol do River uruguaio.
A jogada infeliz de Richarlyson lembrou-me outra estréia, também de um lateral esquerdo, posição de origem do ex-sãopaulino, nos idos de 1967: a de Cincunegui. Chegado do Uruguai no meio da semana, e escalado no domingo para marcar o veloz ponta cruzeirense, Natal, coincidentemente a única jogada em que foi batido, deu origem ao gol dos adversários, que ganharam o jogo de 1 a zero.
***
Gostei da rápida e envolvente troca de passes no meio campo, especialmente no primeiro tempo, pelo que projeta em potencial, quando deixar de ser mera troca de passes no meio e conquistar mais objetividade, com penetrações em direção ao gol.
***
Não gostei da impaciência da torcida, manifestando-se, algumas vezes contra a falta de objetividade das trocas de passes e inversões de jogada. É preciso ter calma e aguardar.
Não gostei de passes errados, muitos sob a justificativa de que, por ser primeiro jogo, estão todos sem muita sintonia em relação à bola e às dimensões do campo, além do posicionamento dos companheiros.
Do calor que parecia bastante intenso, mesmo à meia-noite, quem não deve ter gostado foram os jogadores.
Mas, como teste foi bom. E serviu ao que se propôs: começar a dar ritmo de jogo aos jogadores e permitir a Dorival Júnior buscar encontrar o melhor posicionamento para a equipe.

Dúvidas sobre a criatividade e o ócio

ÓCIO                        
                       
Insisto em fazer versos
esquálidos
patéticos
sem conteúdo racional
Versos que dão conta
de uma imensa falta do que fazer.

E você que os lê
qual o custo de oportunidade?
Qual o verdadeiro nível
de sua ociosidade?

Espelho da alma

OLHOS

Olhos bonitos
amendoados
espertos, sorriem
negros, aveludados
enigma atroz...
Olhos grandes
retratos da alma
límpidos, claros
sem sombras de cansaço
sem o vermelho
do congestionamento...
espaço alvo
Olhos preciosos
não são meus...

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

A apropriação do privado

A Aneel - Agência Nacional de Energia Elétrica,  órgão regulador das empresas responsáveis pela produção e fornecimento da energia elétrica em nosso país, decidiu que essas prestadoras não terão de devolver ao público consumidor, os 7 bilhões de reais que essas companhias cobraram a mais de nós usuários brasileiros.
Sem grande poder de convencimento, essa decisão foi apresentada à imprensa com a argumentação de que, a devolução agora, levaria a que, no futuro, os consumidores estariam pagando um valor muitas vezes maior que o ganho que teriam agora.
Não fosse a Agência um órgão capturado pelas empresas a quem deveria controlar, como já tratamos aqui em outros comentários nesse mesmo janeiro, e como tal, agindo para e em defesa dos interesses dessas corporações  e não do povo brasileiro, como se supunha ser o comportamento de um órgão vinculado ao poder público, poderíamos ficar surpresos.
***
Mas, surpreende-me mais a desfaçatez. Afinal, até futurólogo, ou vidente, capaz de ver preços futuros, os membros da agência se mostraram ser.
Tudo bem, para um país em que até Mãe Dinah teve seus 15 momentos de fama.
E, quem sabe, essas empresas estejam mesmo precisando dos recursos cobrados indevidamente (apropriação indébita? roubo?) para contratar quem saiba fazer cálculos e/ou para comprar máquinas de calcular que possam, no futuro, impedir tantos erros e de tantos anos, nas contas de reajuste das tarifas????
***
Pelo menos uma tranquilidade em meio a esse festival de sandices: as empresas de energia elétrica foram, em sua maioria frutos de processos de privatização dos anos pós-Real.
E, em sendo privadas, comprovam e confirmam a maior e melhor capacidade gerencial da iniciativa privada, quando comparada a suas congêneres públicas.
Afinal, lucram muito mais. Faturam muito mais. Ganham muito mais. E são bem mais eficientes.
Pelo menos enquanto o Brasil continuar sendo o reino da impunidade.

Mais crédito, menos risco e juros menores! E viva a concorrência bancária...

Informações divulgadas hoje pelo Banco Central a respeito da situação das operações de crédito do Sistema Financeiro, mostram dados que poderiam parecer bastante contraditórios, à primeira vista.
No entanto, não há nada paradoxal no conteúdo. Como já temos mostrado em outros comentários, aliás, bem ao contrário.
Senão vejamos: o saldo das operações de crédito cresceu 20,5 % no ano de 2010, alcançando a cifra de 1,7 trilhão, correspondente a 46,6% do PIB.
Embora expressivo o aumento, em termos de participação relativa no PIB, o valor ainda mostra ser bastante acanhado, quando comparado a capacidade de alavancagem de sistemas financeiros de economias mais avançadas.
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Por outro lado, também caiu a inadimplência do sistema, ou seja, reduziu o risco de crédito e, por conta dessa queda, os bancos puderam diminuir os juros cobrados sobre os empréstimos, certo? (como diria Gerson, o canhotinha de ouro da Seleção de 70, certo?)
Aliás, consta em qualquer manual razoável de economia, a lei da procura e da oferta: se o produtor fornece sua mercadoria a preço mais baixo, irá vender maior quantidade. O que deixa de ganhar no preço, ganha na quantidade maior vendida. Seu retorno e sua rentabilidade se elevam e o preço para o público fica menor.
É a grande conquista do Mercado Livre.
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Pois bem, segundo o BC, subiram os juros em dezembro e, já em juro os primeiros indícios apontam para uma elevação das taxas nas linhas de crédito para o público: cheque especial, etc.
A explicação é clara: subiram os juros, a Selic, ou seja o custo do dinheiro que os bancos têm de nos pagar para captar. Com um "funding" mais caro (no caso de empréstimo, a matéria prima mais cara), o produto final fica também mais caro.
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Mas, os juros só se elevaram em janeiro agora, na primeira reunião do COPOM da Dilma, e no último trimestre do ano passado a Selic se manteve estável.
Além disso, como é curiosa a capacidade de transmissão da política monetária (a elevação da Selic), para o funcionamento bancário e a economia, QUANDO SE TRATA - E TÃO SOMENTE, DE ELEVAÇÃO DOS JUROS.
Quando o BC reduz a Selic, surge um gap temporal, um lagging, um atraso até que a taxa retroceda na ponta do tomador.
***
Alguma novidade? Não, tendo em vista o fato de que os bancos formam um grande e sólido mercado oligopólico, com o comportamento típico desses mercados onde a concorrência é "só para inglês ver". E que, nos dias de hoje, só acredita no funcionamento da famosa lei da procura e da oferta dos manuais de economia, típica de mercados concorrenciais perfeitos, o saci pererê, os duendes amigos de Rumpelstiltskin, e o espírito sempre infantil e imaturo de Peter Pan, o Capitão Gancho, a Fada Sininho e as crianças da terra do Nunca.

Lavando a alma - poema

LÁGRIMA DE RECORDAÇÃO


Num ponto distante
um nada, o além
uma lágrima pura
em gotícula fulgura
e traz-nos recordações.
Num ponto afastado
num infinito remoto
brilha a esperança da paz
e alegra-se um espírito transtornado
e uma feliz imagem
à lembrança vem
e qual miragem
                                   que não perdura
                                   desce a rolar a lágrima pura
                                   desce a esquentar
                                   o frio do medo
                                   o infinito do tempo
                                   a inexata noção da realidade.
                                   Aquecimento central
                                   derrete geleiras de conflitos
                                   orgulhos e preconceitos insuspeitos
                                   Num ponto tão longe
                                   uma vaga menção à paz
                                   brota de dentro da gente
                                   a recordação do presente
                                   que uma lágrima traz.

Viagem dos tempos de adolescência - poema

VIAGEM COLORIDA

A viagem em colorido
sonho sem sentido
que me leva desta vida
Procuro a volta
sem a partida
e sonhando busco o tempo
iludido quero a paz
colorindo volto moço
partindo como rapaz
que viaja tão somente
pro futuro numa busca
que não pára
E se fixa
no futuro brilhante do espaço
Infinito um zero à esquerda...
Numa busca sem sentido
ouso o sonho prometido
todo alegre, colorido.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Aniversário de São Paulo

Só para não deixar passar em brancas nuvens: Parabéns São Paulo. Por seus 457 anos de idade, vários dos quais se notabilizando como a locomotiva de nosso país e de nossa economia.
Parabéns a você, paulistano de tantas partes do Brasil, de tantas origens, de tanta experiência e riqueza cultural, capaz de tornar essa cidade, cada vez mais e cada dia mais aberta para receber aos novos "baianos", "gregos e australianos", nesse cadinho de raças, credos, sonhos, amores, suores, e vidas.
Parabéns pelo 25 de janeiro.

O resultado das contas externas, e a questão dos fluxos de capitais

No post anterior, afirmei que não devia causar estranheza o resultado. Vejamos mais alguns dados.
Embora 48,5 bilhões de dólares de recursos externos entraram no país, para serem aplicados no setor produtivo, 52,2 bilhões outros foram para aplicações em operações de bolsa ou renda fixa. Ou seja: um novo recorde para a entrada do chamado investimento em portfolio ou carteira, incluídos aí, os recursos da capitalização da Petrobrás.
***
Convém dizer que esse capital vem para nosso país atraído pela remuneração, em especial no caso de renda fixa, dos títulos que pagam juros, não custa repetir, os juros reais mais elevados do planeta.
É dinheiro que, por sua capacidade de transmutação (de dinheiro estrangeiro para o nacional; desse para títulos; daí, novamente fazendo o circuito inverso) não podemos contar e sair gastando em obras e infraestrutura em benefício de nossa economia, sob risco de, na hora que o dono quiser recuperar os seus recursos originais, não possamos honrar nossos compromissos com seus proprietários.
Ou seja: dinamite pura.
Para sermos mais justos: como é um recurso que não tem outra alternativa de aplicação tão boa, não vai também embora tão facilmente. Mas pode fazer sempre o jogo da chantagem do estou indo, para ver o que dá para levar de agrado.
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Por isso que o BC estima que a situação vai piorar em 2011, no front externo. Instado a elevar a Selic, para combater a inflação, alimenta a entrada de mais dólares. Daí, o real se valoriza ainda mais, e mais barato continuarão as coisas adquiridas no exterior. Inclusive, claro, viagens que alcançaram a cifra de 16,4 bilhões em 2010.
***
Duas coisas: uma a respeito dos gastos com viagens internacionais. Porque ao invés de ficar lamentando ou procurando culpados nos que optaram por ir ao exterior em turismo, não inverter a pergunta.
Porque uma viagem ao Nordeste é tão mais cara que à Europa? Porque os hotéis lá, mesmo mais qualificados, não são tão caros? Como justificar e o que fazer para impedir a permanência do abuso nos preços cobrados dos produtos vendidos nas nossas praias e cidades litorâneas?
O que fazer para tornar a viagem no interior de nosso próprio país mais viável? Aumentar a competitividade de nossos parques turísticos e nossa rede de hospedagens e hotéis?
Segundo ponto: a entrada de dólares valorizando nossa moeda altera os preços relativos (o preço do que fazemos, comparado ao preço do mesmo produto feito fora) da produção aqui gerada. Faz com que nossa produção fique mais cara, e mais vantajoso comprar o importado.
Ora, para o produtor e empresário nacional, pequeno ou médio, poderia ser interessante que o governo adotasse uma política monetária e cambial que estimulasse a retomada das exportações e tornasse as importações menos interessantes.
Mas também é importante lembrar que, com a economia brasileira oferecendo várias vantagens capazes de atrair um volume significativo de empresas transnacionais para se instalarem aqui, não se perca de vista que o investimento dessas empresas não se dá apenas como resultado das condições a elas oferecidas por nosso país.
Suas decisões de investir e produzir seguem um planejamento estratégico global, cuja poder de decisão e controle nos escapa. Isso significa dizer que, como nos ensina Eduardo Augusto Guimarães, elas podem vir e se instalar para gerarem lucro para as matrizes, para a corporação como um todo. Para isso, podem ser menos afetadas pelas políticas de câmbio adotadas, dando continuidade a seu papel de importar de outras unidades da corporação, ou exportando apenas para essas unidades aquilo considerado mais competitivo não no sentido de conquista de novos mercados (de resto, muitas vezes em concorrência com outras unidades do mesmo grupo e em prejuízo da totalidade), mas no sentido de assegurar a geração do lucro global máximo.
***
Em síntese: um tipo de capital, por volátil e fora dos controles por recomendação dos organismos internacionais, pode causar instabilidade. O outro tipo, mais estável e de mais longo prazo, tem interesses e "raciocina" de forma distinta do empresário ou capitalista nacional comum, o que pode, às vezes, levar a interpretações e expectativas de comportamento que não irão se tornar realidade.
Ajudam no curto prazo, quando financiam nossos déficits, como é o caso agora. Mas é bom lembrar: todo cuidado é pouco.

Déficit nas contas externas: como se interpretar a notícia nos sites da grande imprensa

Não deve surpreender a ninguém o anúncio feito pelo Banco Central, da ocorrência de um déficit recorde na conta de transações correntes no montante de 47,5 bilhões de dólares.
Ou seja: embora a balança comercial tenha dado resultado positivo, indicando que as exportações superaram as importações em 20,3 bilhões de dólares, esse resultado não foi suficiente para cobrir a saída de dinheiro a título de pagamento por serviços. Leia-se aqui, o pagamento de viagens e remessas de lucros e juros para o exterior.
Segundo o site globo.com, que transcrevo:
" A principal explicação para a deterioração das contas externas brasileiras em 2010 foi o crescimento da economia nacional, estimado em mais de 7,5% por analistas, aliado ao dólar baixo."
***
Vale uma observação: a economia crescendo, as empresas têm de produzir mais. Isso acarreta a maior necessidade de matérias-primas, insumos, peças, partes, componentes para a produção aumentada, SE, E A CONDIÇÃO É IMPORTANTE, não houver matéria-prima e insumos em quantidade e qualidade suficiente no país.
Feita a ressalva, podemos seguir afirmando que, ao crescer a produção, também importa-se mais, inclusive  máquinas que permitirão o acréscimo da capacidade produtiva.
Some-se ainda o fato de que, crescendo a economia, há a geração de mais emprego, mais pessoas trabalhando e com mais renda. E renda, leva a maiores gastos em consumo, com importação de produtos do estrangeiro, muitas vezes considerados de melhor qualidade.
A isso que faz referência a frase transcrita, cuja sequência é: " além das importações que também cresceram - o que baixou o saldo comercial para o pior resultado em oito anos."
E segue: " Ao mesmo tempo, também contribuíram para o resultado negativo o crescimento do emprego e da renda e a moeda norte-americana desvalorizada, que impulsionaram um recorde nos gastos com viagens ao exterior."
***
Do que se lê, pode-se depreender que: ao crescer, tivemos de importar mais, o que não seria em absoluto, ruim. Afinal, importamos e criamos um déficit que, elevando o patamar de nossa economia, nossos investimentos, etc., levarão a posterior aumento das exportações. Então, o problema é de curto prazo. E sanável.
Mas, se é assim, ou assim pode ser interpretado, porque então não fazer a afirmação categórica, mas temperá-la com um além... ("além das importações que também cresceram")...que ser refere ao crescimento das importações como um adendo E NÃO A CAUSA PRINCIPAL?
A resposta está na própria matéria, que agora repito com o conteúdo integral: "A principal explicação para a deterioração das contas externas brasileiras em 2010 foi o crescimento da economia nacional, estimado em mais de 7,5% por analistas, aliado ao dólar baixo. Tais fatores elevaram o volume de remessas de lucros e dividendos."
***
Agora dá para analisar, não o resultado, mas a matéria do site da Globo: o resultado deficitário recorde do déficit se deve PRINCIPALMENTE à remessa de lucros e dividendos, consequência de nossa integração à ordem econômica mundial, à globalização, por meio da liberalização de nossa economia e da flexibilização dos fluxos de capitais.
Bem, essa inserção que nos torna aptos a consumir os Nykes da vida, é também que permite que recebamos muito dinheiro do exterior, inclusive de empresas que vêm investir e querem investir em nosso país. Não por causa da cor morena da nossa pele, ou do requebrado das mulatas, mas para extrair daqui os lucros e exportá-los para os paraísos fiscais de onde provêm os capitais.
***
Senão vejamos mais dados anunciados pelo BC: o volume de entrada de recursos a título de investimento direto estrangeiro, aqueles que vêm para instalar fábricas e produzir, sozinho, cobriu o resultado negativo das transações correntes. Ou seja, só o dinheiro das empresas que vieram produzir aqui, alcançou 48, 5 bilhões de dólares, outro recorde.
Desse total, a indústria foi o setor onde mais se aplicaram recursos, no montante de 19,3 bilhões, dos quais 7,41 na química (a Amazônia, o maior manancial de substâncias a serem desenvolvidas  no mundo), e 3,52 para a metalurgia.
Luxemburgo e Países Baixos, com 15,2 bilhões foram os dois países de onde vieram mais recursos, seguidos da Suíça, todos países com carga tributária que os classifica como paraísos  fiscais.
***
Mas, já encerrando, é preciso dizer duas coisas:
- o recurso estrangeiro vem operar aqui por ser um mercado em franca expansão, dinâmico, que está incorporando, em especial depois do governo Lula, uma legião de novos consumidores maior que a população de muitos países ricos europeus. Países que, como os Estados Unidos, estão enfrentando crises típicas da maturidade. Além disso, vem para obter a produtividade do trabalhador brasileiro, com bem menos custo que o pago por mão de obra em seus países sede. Sem falar na redução de custos proporcionada pela abundância de recursos naturais aqui existentes.
- A notícia do site, prefere, entretanto, sem conseguir esconder a verdade, disfarçá-la, sinalizando que o crescimento, o emprego, o povo com mais renda, a gastança consumista desse "povo que agora está lotando e provocando caos nos aeroportos", as viagens internacionais mais baratas (sinal de que a gente quer comida, diversão e arte. E cultura!), essas são as causas do resultado obtido.
Em meio a tantas causas, perde o poder de explicação de qualquer causa que seja mais significativa. Ou não?
Então o povo não pode ficar bem, embora o país possa e deva crescer.
***
Quanto ao câmbio, com dólares baratos, atraídos pelos juros escorchantes que a própria equipe de analistas econômicos da Globo prega como forma de se combater a inflação, muito pouco.
Mas o suficiente para que a confissão venha, tímida e implícita no último trecho:
"A previsão do Banco Central é de uma nova piora das contas externas em 2011, mesmo com a economia crescendo menos.  A manutenção de um patamar baixo para o dólar deve gerar piores condições de competitividade para as empresas brasileiras."
É isso.

Poema para refletir: Teatro da vida

TEATRO DA VIDA

Não, não fale
e não diga
e se cale
prá que siga
o curso maior do destino.
O palco iluminado
só nos mostra a desgraça
felicidade rara
momentos pequenos de ternura
carinho pouco, que loucura
e está a nossa frente
o presente que nos mata
o futuro que anima
e que nos dá a certeza
de que nós que hoje sofremos
por tolices nas quais cremos
Nós não vemos nada disso
E por isto atenção
agora cale, nada fale
é o clímax, é assim
vem a morte, é o fim.

Descaracterização urbana

                                    ÁRVORE


                                   Havia uma árvore
                                   no meio da rua
                                   Havia um canteiro
                                   no meio da rua
                                   e o carro chegou
                                   matando a árvore
                                   reclamando do canteiro.
                                   Havia uma buzina
                                    tocando insistente
                                   Havia um carro
                                   batido na árvore
                                   e o canteiro foi retirado
                                   a rua perdeu sua sombra
                                   a árvore, morreu de velha
                                   o povo sofreu de remorso
                                   mas o carro fez sua festa.
                                   Havia uma árvore
                                   no meio da rua
                                   hoje há só um carro
                                   parado na rua ... nua.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

O retorno do fim de férias

Em minha volta ao trabalho, o retorno aos pitacos.
Que estiveram ausentes nesses últimos 4 ou 5 dias, por um motivo justo: não vou dar pitaco sobre BBB.
Embora admita que é muito difícil ter, até o final do carnaval, alguma coisa de importante para tratar.
Claro, sempre pode ser feita alguma observação sobre o estilo Dilma de governar, muito mais contido, muito mais gerencial e técnico, muito menos midiático que o de seu antecessor, Lula, como não deixou de alfinetar o próprio ex-presidente FHC.
***
A esse propósito, é digno de observar que, ao contrário do governo anterior, em que o presidente parecia fomentar não apenas os debates, mas muitas vezes a própria discórdia, para poder exercer a arbitragem imperial final, parece que é mesmo para valer a questão de que rusgas internas terão de ser resolvidas intramuros. Só depois de obtido o consenso ou tomada a decisão, a imprensa, a mídia será informada.
Para evitar especulações e a transformação de pequenas (e inevitáveis) divergências em crises institucionais.
É isso que parece ser a mais plausível explicação para a exoneração publicada no Diário Oficial de Pedro Abramovay, Secretário da Secretaria Nacional de Justiça.
Pedro, que defendeu um tratamento punitivo mais leve para pequenos traficantes foi desautorizado, logo em seguida pelo Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.
Enfim, como se previa, este é o jeito Dilma de governar. Mais para trator que para salamaleques.
***
Outro assunto, bem mais polêmico e vergonhoso, que tem ocupado a atenção dos órgãos de imprensa é a da concessão de aposentadoria vitalícia para ex-governadores. Afinal, trata-se, na maioria das vezes e dos casos, de pessoas que mesmo no gozo de boa saúde, e até ainda na ativa, ocupando outros cargos e funções, acabam conquistando o benefício que foi cassado há muito para o funcionalismo público comum: a figura do apostilamento.
Com esse instituto, todo aquele que ficasse, às vezes 4 anos, às vezes 10 anos (variando de acordo com os humores dos governantes de plantão e da mobilidade da lei) ocupando cargo em comissão no serviço público incorporaria ao seu salário a comissão da função.
Alegava-se que era para oxigenar a máquina e permitir o rodízio de servidores nos cargos de confiança.
Com governantes, alguns dos quais ficaram apenas 10 dias no cargo, chega a ser patético que não tenha acabado a concessão. Porque, para os que já têm o direito assegurado, dificilmente alguém pode defender o corte da vantagem.
Afinal, para o mal ou para o bem, é assegurando-se o cumprimento dos direitos conquistados que se cria e fortalece o Estado do Direito.
Ou não?
Os aposentados que passaram a pagar INSS, que o digam...
***
Mas, é bom lembrar que não são apenas os governadores os beneficiários não. Há também os prefeitos, etc. etc...

Justificando os versos

Faço um verso,
prá contar o dia-a-dia,
verso pobre,
vida vazia.,
Faço versos,
prá fugir à realidade,
e flutuar solto no espaço,
              onde tento me esconder.,
Faço versos,
   por não conseguir poemas,
   falo de versos,
        /diversos,
Faço versos,
nada mais que fantasia,
versos pobres,
por não saber fazer poesia

A destruição das chuvas - poema

Na cidade cinza
a chuva vence num assalto
e leva consigo o asfalto
formando poças
quase crateras
que dominam as ruas
impedem a normal circulação
dos automóveis aflitos
que buzinam sem cessar
acrescendo a confusão
elevando dessa forma
a poluição sonora.
Na cidade cinza
a chuva castiga as ruas
o concreto, o asfalto
só não agredindo as flores
as árvores, os jardins.
Vencidos há mais de um ano:
Podados: progresso humano.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

A Selic e a autonomia do BC: autonomia em relação a quem, cara pálida?

E, como se previa, saiu a elevação 0,5% da taxa Selic, na reunião do Copom, de ontem.
Interessante é o comunicado que informa que foi dado início ao processo de ajuste dos juros básicos necessário para conter a inflação próxima da meta estipulada.
Sinal, também, de que até o final do ano, a "aposta" (comando) do mercado financeiro deverá ser correta. Expectativa de taxa de juros no patamar de 12,25%.
***
Curiosa, se bem que nem tanto quando a gente deixa a ficha cair, a alegria dos ditos comentaristas econômicos ao anunciar e tecer considerações sobre a medida. Para alguns, ventrílocos sem qualificação do sistema financeiro, a postura apenas mostra que o Banco Central vai continuar mantendo sua autonomia no governo Dilma.
Autonomia em relação a quem, cara pálida? Ao governo, ao Ministério da Fazenda, à Presidência da República, à população ou ao mercado e seus iluminados analistas?
Porque então, se todo o mercado espera que a inflação VAI SUPERAR a meta neste ano de 2011, e prevê taxa de 12,25% ao final do ano, porque não peitar o mercado e todos que esperavam o aumento de 0,5% apenas, e promover um aumento já de 1 ponto percentual?
E deixar que, mais ao final do ano, a economia estivesse menos sujeita à elevações de preços, já esperada?
A quem interessa, além do mercado e de seus profissionais, um aumento escalonado que todos sabem é excelente para a colocação de papéis pós-fixados, de renda fixa, a curto prazo, todos dizem que 3 meses?
***
Não estou, longe de mim tal idéia, propondo aumento de juros ainda maiores. Apenas minha curiosidade é que me leva a querer saber porque, se se espera aumentos até o final de ano, deixar que o mercado guie o cronograma de tais aumentos?
Que autonomia é essa em relação ao mercado?
Não é à toa que os jornais só entrevistam os profiissionais que atuam no mercado financeiro, em bancos e assemelhados, deixando de ouvir professores de outras correntes de pensamento.
***
Alguns poderiam dizer que aumentos maiores, nesse momento, agravaria ainda mais a situação da atração de recursos externos, com impactos significativos no câmbio, o que é verdade.
Mas, pergunto ainda, insistente: com a manutenção da maior taxa real de juros do planeta, na casa dos 5,5% ao ano, já descontada a inflação prevista, o problema  já não está posto? É bom lembrar que os cálculos feitos por profissional do mercado, ligado à corretora Cruzeiro do Sul, indicam que o país localizado em segundo lugar na escala é a Austrália, com uma taxa no patamar de 1,9% ao ano.
Em síntese: mais do mesmo. E não sei se na direção correta, a julgar pela alegria do pessoal do mercado.

Carnaval em BH: Drama ou farsa?

Em Belo Horizonte, o prefeito decide hoje o local de realização dos desfiles carnavalescos da cidade.
Antes, na Avenida Afonso Pena, os desfiles foram transferidos desde o ano de 2003 para a Via 240, perto do Bairro São Gabriel, local plano, amplo, e não fosse a distância do centro da cidade, muito bom para a realização desse tipo de evento.
Mas, a distância impede que a grande maioria do pessoal que fica para passar o carnaval em nossa cidade se desloque para aquela via.
Afinal, é preciso se lembrar que a concorrência com o carnaval que a televisão nos traz do Rio (Globo) ou de Salvador (Bandeirantes) é muito desigual. Primeiro porque seja na tevê, seja na Via 240, quem vai para ver, não participa, apenas assiste.
E, convenhamos, fica difícil convencer alguém de que está participando de algo, do qual é mero espectador passivo. Por essas e outras, acho que o Carnaval, cada vez mais show, é cada vez menos POPULAR.
Exceto nos bailões públicos e de entrada franca, reabilitados, por exemplo aqui em BH, aos quais eu sempre me referi como carnaval PraPular.
O drama é que, nenhuma televisão, mesmo as aqui instaladas e até oficiais, coloca a transmissão dos desfiles de BH em sua programação. No máximo, dão alguns flashes dos desfiles, o que é muito pouco. Ação desestimulante ao carnaval da capital e que, reforça a impressão de que o Carnaval daqui é muito fraco.
***
Mas, voltando à questão do local do desfile, blocos caricatos - a verdadeira diferença e tradição de nosso carnaval, e escolas de samba (cópias e arremedos muito pobres do carnaval carioca), desejam a realização do carnaval no Boulevard.
Claro, a opinião não é, como não poderia ser diferente, felizmente, unânime. Há representantes e líderes carnavalescos que acreditam que, enquanto o nível do carnaval não melhorar bastante, o melhor é manter o carnaval belohorizontino longe do centro, e longe de um local que, por sua localização e imponência, exigiria, no mínimo, uma certa qualidade.
A maioria dos blocos e sua associação, ao contrário, desejam o Boulevard, e cobram, da Prefeitura, além da definição de local, uma ampliação da dotação orçamentária para os desfiles.
Isso, sem contar que, até essa data, há agremiações que não comprovaram os gastos feitos no carnaval de 2010. Ou seja, a irresponsabilidade continua a mesma, pelo lado de uns. E a vontade de avançar em recursos públicos escassos, também, em outros.
***
Por outro lado, o Carnaval no Boulevard traria o problema, segundo alegam os que transitam pelo local, da montagem das arquibancadas para a assistência, o que implicaria no fechamento de pistas ao trânsito. Além do transtorno para os que passam pela região, nos dias de desfile.
E é aqui que eu queria chegar. Porque desde o primeiro momento que se falou na construção da via verde, ligando o centro da cidade ao Centro Administrativo, foi também apresentado o projeto da construção do boulevard. E, desde aquele momento, entre outras manifestações, foi citada a utilização do espaço para a apresentação dos desfiles carnavalescos. A volta do carnaval ao centro da cidade foi, desde sua apresentação, uma das propostas e idéias utilizadas para angariar a simpatia da população para o projeto.
E, se assim foi, porque não se planejou o problema da construção das arquibancadas, desde aquele instante?
Se o carnaval, tanto quanto as chuvas de verão e o próprio verão sempre vêm, com pontualidade britânica, a cada ano, porque não planejaram e propuseram, desde aquele primeiro momento, soluções que não trouxessem esse tipo de elemento complicador e de desculpas para a decisão e utilização do espaço.
Ou seja, mais uma vez a incompetência. A incúria.
***
Lembro hoje, sem saudade, do caos que era o trânsito da Av. Getúlio Vargas, na zona central do Rio, para a armação das arquibancadas.
E lembro da eleição de Brizolla, em 1982 e de sua primeira obra, para muitos que o criticavam, inclusive a grande imprensa, um verdadeiro cemitério de Odorico Paraguassu e sua Sucupira: o Sambódromo.`
É, às vezes, dá saudades de certos políticos que enxergavam um pouco mais adiante de seu tempo.

Estão voltando as aulas

VOLTA ÀS AULAS


As costas arqueadas
revelam o peso dos livros
cujo destino é enfeitar armários
entulhar estantes.
abertos prá estudar
só por instantes.
Constrói-se assim o saber
nos e-livros
e-books
nas nets e sites
onde já prontas
as pesquisas não permitem
o aprendizado da vida.

De ausências

VÁCUO                                                       

                                               Jogo de formas
                                               palavras soltas
                                               sem elo explícito, mental
                                                           Insinuações vagas
                                                           meros fragmentos aleatórios
                                                           ocupando o papel raro
                                                                                  caro
                        sem declarar nada útil
                        sem mensagem: fútil.

Silêncio

                                  SILÊNCIO

                                   Um murmúrio no espaço
                                   Já não há grito
                                   foi-se a voz
                                   perdida no tempo
                                   a tempo de ver fugir
                                               ver fingir
                                               divertir
                        No ar mais que onda sonora
                        flutua surda metamorfose
                        rompendo com o eco
                        passado
                        onde uma voz engasgada
                        brada um grito lancinante
último.