terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O resultado das contas externas, e a questão dos fluxos de capitais

No post anterior, afirmei que não devia causar estranheza o resultado. Vejamos mais alguns dados.
Embora 48,5 bilhões de dólares de recursos externos entraram no país, para serem aplicados no setor produtivo, 52,2 bilhões outros foram para aplicações em operações de bolsa ou renda fixa. Ou seja: um novo recorde para a entrada do chamado investimento em portfolio ou carteira, incluídos aí, os recursos da capitalização da Petrobrás.
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Convém dizer que esse capital vem para nosso país atraído pela remuneração, em especial no caso de renda fixa, dos títulos que pagam juros, não custa repetir, os juros reais mais elevados do planeta.
É dinheiro que, por sua capacidade de transmutação (de dinheiro estrangeiro para o nacional; desse para títulos; daí, novamente fazendo o circuito inverso) não podemos contar e sair gastando em obras e infraestrutura em benefício de nossa economia, sob risco de, na hora que o dono quiser recuperar os seus recursos originais, não possamos honrar nossos compromissos com seus proprietários.
Ou seja: dinamite pura.
Para sermos mais justos: como é um recurso que não tem outra alternativa de aplicação tão boa, não vai também embora tão facilmente. Mas pode fazer sempre o jogo da chantagem do estou indo, para ver o que dá para levar de agrado.
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Por isso que o BC estima que a situação vai piorar em 2011, no front externo. Instado a elevar a Selic, para combater a inflação, alimenta a entrada de mais dólares. Daí, o real se valoriza ainda mais, e mais barato continuarão as coisas adquiridas no exterior. Inclusive, claro, viagens que alcançaram a cifra de 16,4 bilhões em 2010.
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Duas coisas: uma a respeito dos gastos com viagens internacionais. Porque ao invés de ficar lamentando ou procurando culpados nos que optaram por ir ao exterior em turismo, não inverter a pergunta.
Porque uma viagem ao Nordeste é tão mais cara que à Europa? Porque os hotéis lá, mesmo mais qualificados, não são tão caros? Como justificar e o que fazer para impedir a permanência do abuso nos preços cobrados dos produtos vendidos nas nossas praias e cidades litorâneas?
O que fazer para tornar a viagem no interior de nosso próprio país mais viável? Aumentar a competitividade de nossos parques turísticos e nossa rede de hospedagens e hotéis?
Segundo ponto: a entrada de dólares valorizando nossa moeda altera os preços relativos (o preço do que fazemos, comparado ao preço do mesmo produto feito fora) da produção aqui gerada. Faz com que nossa produção fique mais cara, e mais vantajoso comprar o importado.
Ora, para o produtor e empresário nacional, pequeno ou médio, poderia ser interessante que o governo adotasse uma política monetária e cambial que estimulasse a retomada das exportações e tornasse as importações menos interessantes.
Mas também é importante lembrar que, com a economia brasileira oferecendo várias vantagens capazes de atrair um volume significativo de empresas transnacionais para se instalarem aqui, não se perca de vista que o investimento dessas empresas não se dá apenas como resultado das condições a elas oferecidas por nosso país.
Suas decisões de investir e produzir seguem um planejamento estratégico global, cuja poder de decisão e controle nos escapa. Isso significa dizer que, como nos ensina Eduardo Augusto Guimarães, elas podem vir e se instalar para gerarem lucro para as matrizes, para a corporação como um todo. Para isso, podem ser menos afetadas pelas políticas de câmbio adotadas, dando continuidade a seu papel de importar de outras unidades da corporação, ou exportando apenas para essas unidades aquilo considerado mais competitivo não no sentido de conquista de novos mercados (de resto, muitas vezes em concorrência com outras unidades do mesmo grupo e em prejuízo da totalidade), mas no sentido de assegurar a geração do lucro global máximo.
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Em síntese: um tipo de capital, por volátil e fora dos controles por recomendação dos organismos internacionais, pode causar instabilidade. O outro tipo, mais estável e de mais longo prazo, tem interesses e "raciocina" de forma distinta do empresário ou capitalista nacional comum, o que pode, às vezes, levar a interpretações e expectativas de comportamento que não irão se tornar realidade.
Ajudam no curto prazo, quando financiam nossos déficits, como é o caso agora. Mas é bom lembrar: todo cuidado é pouco.

2 comentários:

Anônimo disse...

Sugestões:
-Tributar títulos públicos em novas aplicações....enquanto as entradas líquidas forem positivas.
-Recompra dos títulos privados nacionais que tenham risco igual ou menor ao risco Brasil na carteira do Banco Central, isso alavancaria a capacidade do Brasil reter reservas com o mesmo custo.
-Recompra dos títulos públicos brasileiros no mercado secundário.
-Limitação do influxo de capitais efetuados pelo SFN que faz arbitragem com o diferencial de juros, sem qualquer tributação (IOF).
-Permissão para que os brasileiros possam ter contas em moeda estrangeira no Brasil. E que os Bancos Brasileiros possam emprestar em dólares, de forma a que o mercado não precise ser enxugado toda vez pelo BC.

Igor disse...

Lúdico