quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

A apropriação do espaço público pelo privado

Retomo o livro citado ontem, de Joel Bakan, A Corporação. E o faço a título de provocação.
Porque o texto trata, e eu ainda não havia me dado conta disso, de como até o espaço público, das ruas e praças, locus por excelência da expressão da democracia e da vontade popular dos cidadãos, transformou-se e transforma-se, cada vez mais, em espaço privado.
Citando-o: " Os túneis e as passarelas urbanas, com os shopping centers dos bairros elegantes, são lugares projetados e usado para interação pública, porém controlados por proprietários particulares, em geral grandes corporações que controlam o que acontece e quem pode transitar em suas propriedades. Seguranças e equipamentos de vigilância são onipresentes .... (p. 158)
Traz até a referência a uma placa que ..." "ESPAÇO PÚBLICO" anuncia uma placa no AT&T Plaza, em Nova York, "De propriedade e mantida por AT&T". (P.156)
Em nota explicativa ao fim do livro, informa: "47. Uma foto da placa está reproduzida na capa do livro de Herbert Schiller, Corporate Inc.: The Corporate Takeover of Public Expression etc. (p. 245).
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Ainda não ocorrera, a mim, o significado mais concreto dos shoppings, esses templos do consumo.
Ainda pensava na questão da segurança, da tranquilidade de se ter, em um mesmo lugar, várias e distintas lojas à minha disposição.
Claro que já tinha percebido, cada vez mais que o shopping estava tomando o espaço da realização de eventos, antes tipicamente, realizados em locais públicos, abertos. Desde a instalação e montagem de um circo ou um parque de diversões, até a de um show de golfinhos e focas amestradas, ou ainda a realização de uma colônia de férias.
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O interessante, fora qualquer visão mais ingênua que se queira manter, de como os empreendimentos por trás dos shoppings, acabam ampliando e "democratizando" a possibilidade de acesso e conhecimento de parte da população a esse tipo de evento, é a pergunta: até que ponto que a transformação de espaços privados em sucedâneos de espaços públicos, não permite também que o conteúdo do que se faz ou realiza no espaço, seja passível - VEJA BEM, PASSÍVEL, de controle e manipulação para atingir a objetivos do proprietário do espaço.
Os números são impressionantes e valem uma reflexão. Por mim, vale a leitura do livro, A Corporação: A Busca Patológica por Lucro e Poder - Joel BAKAN, São Paulo, Novo Conceito Editora.
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Mas o livro tem mais: a questão do financiamento público de campanhas políticas, em lugar do financiamento privado e da possibilidade aberta para que o financiador capture as agências de regulação voltadas para a controle e supervisão da atividade exercida pela financiada.
A questão das campanhas disfarçadas de marketing. A questão do (mau) uso da publicidade infantil e suas consequências, inclusive para a saúde pública.
Comento a respeito dessas questões em próximas postagens.

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