terça-feira, 2 de novembro de 2010

2 de novembro - Finados

Na verdade, acho que morremos um pouco a cada dia. A cada célula que esgota sua função e é substituída por outra, que vai dar sequência e continuidade a sua missão em nosso organismo.
Como todos sabemos, há um processo natural em nosso organismo, de reposição das células já desgastadas, por outras novas, recém-criadas.
Então, isso equivale a dizer que morremos e renascemos a cada instante, a cada dia, até a cada segundo.
E que enquanto vai se desenrolando esse processo, no fundo, o que estamos fazendo é a série de ensaios preparatórios para que as diversas células possam ir se acertando, e irem encaixando seus movimentos. Até que, um dia, já suficientemente bem ensaiadas, as células todas possam estar inteiramente coordenadas e, em um momento, possam todas morrer juntas, solidárias, ao mesmo tempo.
Tempo então que nossa energia não se renovará, exceto como energia que se repõe em outra esfera, em outros corpos, em outras realidades.
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Claro, há as situações em que essa coordenação não é alcançada, ou que parece ser antecipada, por algum desacerto qualquer que subverte o tempo e abrevia o tempo dos ensaios, ceifando vidas jovens, dir-se-ia, antes da hora.
Embora nunca há a hora, há a percepção de que o organismo que se esgota jovem, ainda não estava preparado para o encerramento de suas funções, o que traz certo choque. Certo assombro. Certa noção de que alguma coisa saiu de controle e de lugar. E talvez seja tão certo esse problema de coordenação, que esse organismo acabe se esgotando mais cedo, precisamente, por não estar apto - por "defeito de fabricação" - a enfrentar as cansativas e tediosas, pequenas, incontáveis e seguidas mortes diárias, de suas células.
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De certo apenas o sentimento de que a morte não é o fim.
Por ser, em última análise, o objetivo de todo organismo vivo. Em suma: porque estamos a cada dia de nossas vidas, apenas nos preparando para alcançá-la, nosso objetivo último.
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Desde criança aprendi a encarar esse dia 2 de novembro como um dia de festa. Dia de aniversário de meu avô, a quem devo muito ou grande parte de tudo que consegui me tornar na vida.
Ao vô Geraldo, que tornava esse dia 2, um dia de comemoração e alegria, minha gratidão e minhas saudades.

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