O Estadão de ontem traz matéria de que a presidenta Dilma deseja, já de imediato, uma redução da taxa de juros básica da economia brasileira.
Ao contrário do presidente Lula, a reportagem afirma, Dilma não adotaria uma postura passiva em relação à política econômica e não daria a mesma liberdade para agir, quanto a dada a Henrique Meirelles na presidência do Banco Central.
A notícia, em meu modo de entender, é muito boa. Em especial para estimular o fim da transformação do Brasil no paraíso do capital especulativo internacional. Como consequências, permite ainda, junto à redução da entrada de capitais de curtíssimo prazo em nosso país, uma menor valorização da nossa moeda, e permite uma elevação das nossas exportações. O benefício, além da melhora do resultado do saldo da balança comercial, é a redução de nosssas importações, a paralisação do processo de exportação de empregos brasileiros para o exterior e o estancamento do processo em curso, cujo fim é o sucateamento da indústria nacional.
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Mas, devemos observar que, a autonomia concedida por Lula ao presidente do Banco Central, foi mais uma imposição do Fundo Monetário, como porta-voz dos anseios dos mercados - financeiros, sempre, mas aqui abrangendo tanto os mercados e os interesses do capital externo quanto do capital interno.
Como já afirmado em comentário anterior aqui mesmo de nosso blog, quando assumiu, uma das imposições do nosso credor era a autonomia do presidente do Banco Central, que chegou inclusive ao limite da própria indicação pelo Fundo, de seu comandante.
Talvez aí esteja, em parte, a explicação para a quantidade de homenagens de que Meirelles foi alvo, e a explicação para tantas e tantas indicações como o principal e o melhor presidente de Banco Central entre os países da comunidade financeira internacional. A outra parcela de responsabilidade de tantas homenagens, deve-se claro, à própria competência individual, à experiência, conhecimento e rede de relações que o Ministro Presidente do Banco Central logrou obter. Méritos que são dele, e que não custa reconhecer.
Mas, Meirelles, como homem e como nome do mercado financeiro, não deixou de cumprir o papel que dele se esperava, para não usar a infeliz expressão "fez o dever de casa".
Embora, tão subalterna tenha sido a política econômica adotada no país, e tão limitado o espaço de sua atuação, que talvez a expressão de fazer o dever de casa faça sentido nesse caso.
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Mas as condições se alteraram. Mesmo ainda no governo Lula, como foi suficientemente anunciado, o país deixou de ser devedor e passou a credor do Fundo Monetário.
Influenciado positivamente pela excessiva liquidez internacional, que ao menos nos trouxe esse benefício, ao atrair capitais externos, o país pôde mudar sua posição em relação ao FMI, embora não tivesse o presidente do Banco Central alterado a política que vinha adotando desde sempre.
Meirelles continuou com a mesma política da época de devedor, praticando a mesma política de juros elevados, visando tanto o combate à inflação quanto a atração de capitais forâneos. Talvez até, com a finalidade mesmo de criar o espaço privilegiado e permitir a valorização assegurada dos capitais que para cá fluíram.
Mas com Lula, Meirelles conquistou esse prestígio. E Lula não se sentiu (muito) incomodado com a cobrança dos mercados. Ao contrário até se beneficiou dos aplausos e elogios que o mercado, satisfeito, não se furtou a fazer. Vide a lista de financiadores da campanha para a reeleição de Lula.
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Alteradas as condições, com novo ocupante do Planalto, não há mais necessidade de manutenção da política de juros elevados, cujo resultado último era o estrangulamento da nossa indústria.
Especialmente se impõe a necessidade de se rever a política e se promover mudanças de ajuste de rumo, quando o mundo inteiro se vê às voltas com a preocupação de uma guerra cambial que se delineia no horizonte.
Também fica claro que o Brasil ainda não poderá fazer cair as taxas de juros para os patamares civilizados que todos desejamos.
E ainda teremos taxas atraentes por um bom período de tempo. E a permanência de fluxos de capital vultosos, embora com caráter menos especulativo.
Mas, temos de começar a inverter os sinais emitidos por nossa economia.
E concordo com Dilma que não podemos mais retardar a promoção dessas mudanças.
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