Impossível não comentar a tragédia que tem sido, a cada fim de semana prolongado, a volta para casa.
O número de mortos e feridos é tão elevado que chega a ser comparável ao número de vítimas de confrontos bélicos, como o da Guerra do Vietnam ou mesmo do Iraque.
E não bastasse a mortandade, sem sombra de dúvida o fenômeno mais lamentável, ainda há aqueles outros acidentes e batidas em que, felizmente, os prejuízos são apenas materiais.
Embora materiais, se fossem colocados na ponta do lápis, os prejuízos decorrentes de cada um desses feriadões, teríamos uma cifra que certamente nos levaria a parar e comparar tal desperdício, com o valor da construção, ampliação, reforma, duplicação e melhoria das condições das estradas.
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Mas, além da imprudência, a que razão ou razões pode(m) ser atribuída(s) a responsabilidade de tantas perdas?
À chuva, especialmente nessa época do ano. Segundo a Polícia Rodoviária, a chuva fraca, fininha, não assusta aos motoristas, e é a pior delas, já que torna o piso asfáltico tão liso escorregadio quanto quiabo.
Enquanto a chuva forte amedronta, mas lava e arrasta o óleo da pista, a chuva fina não retira o óleo, dando-lhe mais oportunidade de se manifestar.
Ao trânsito pesado e aos milhares de motoristas muitos deles acostumados a dirigirem apenas no trânsito urbano, sem levar em consideração que a condução de um veículo nas estradas é muito mais complexa.
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Parte da responsabilidade é da ausência de estradas em condições mínimas de segurança, algumas delas mal construídas, com projetos ultrapassados, desenhos e obras viárias elaboradas para uma época em que o país tinha poucos veículos, a maioria deles de pequena potência, etc.
De minha parte, penso que a responsabilidade do trânsito pesado é, principalmente, por força da utilização de nossa malha rodoviária como escoadouro da nossa produção.
País de grande extensão territorial, o Brasil deveria, desde sempre, ter se preocupado em criar condições para que a distribuição da sua produção se desse, preferencialmente por estradas de ferro, pelo menos para o transporte a grandes distâncias e para cargas de alto peso e volume.
Além do transporte ferroviário, o país deveria ter procurado ampliar seu transporte marítimo costeiro ou por águas fluviais.
Com isso, grande parte do trânsito pesado seria retirado das pistas de rodagem, de um lado, reduzindo o fluxo e o perigo, de outro, evitando o desgaste do piso que o volume de carga, sempre desrespeitado por questões econômicas, acarreta.
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Mas, caracterizando-se por ser uma economia de desenvolvimento retardatário, quando do início de nosso processo de industrialização, o mundo todo já estava na era do automóvel; o principal bem de consumo a ser produzido, dedicado a servir de indústria polo de nosso desenvolvimento era o automóvel, e para que sua majestade o automóvel pudesse ser produzido e pudesse representar seu papel, condições de sua utilização, inclusive, pela criação de rotas de uso deveriam ser privilegiadas.
Deu no que deu. Mais caras, as ferrovias foram abandonadas. As estradas rodoviárias passaram a ter a preferência no rol das obras públicas e, em parte, isso é que explica a grande quantidade de veículos pesados em circulação em nosssas vias de rodagem.
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Só em Minas, dos principais acidentes com mortes registradas e noticiadas, em todos esteve envolvido pelo menos um veículo pesado, um caminhão ou carreta, na maioria das vezes, com peso além da capacidade, em condições de manutenção precárias e muitas vezes, com o motorista sobrecarregado, estressado ou pressionado pela necessidade de cumprimento de prazos de entrega que os levam a cometer algum tipo de imprudência.
Afinal, sem uma remuneração adequada, muitas vezes precisam de rodar em maior velocidade, para fazer maior número de viagens que o número que seria razoável, respeitado um mínimo de segurança.
E, nos feriados, ainda disputando o espaço e o direito de cometer imprudências com motoristas de primeira viagem alguns, ou inexperientes condutores de finais de semana outros, em geral e cada vez mais dotados de carrões de potência e capacidade de aceleração muito maior que nossas estradas estão preparadas para tolerar.
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