Meu amigo, colega e mestre na arte da vida, o Torres (já mencionado em nota anterior) me envia uma série de anotações que andou fazendo, a respeito de alguns de algumas de minhas opiniões.
Remete-me também alguns temas que gostaria de discutir e que são sugestões interessantes.
Aos poucos, vou tratando de alguns dos temas.
O primeiro deles gurada relação com a nota em que comentei do estado deplorável de nossas estradas, em minha opinião principalmente devido ao modo de transporte de cargas equivocado que foi adotado em nosso país: o transporte rodoviário.
Mesmo concordando com minha abordagem, o Torres chama a atenção para o fato de que, criticar-se a utilização e privilégio dado a esse tipo de transporte, não pode servir para alimentar uma discussão distinta: a da, digamos, saga pela implantação da indústria automobilística no Brasil, ainda nos tempos do governo JK e do GEIA.
Em minha nota eu já tratara da questão, afirmando que uma economia de industrialização retardatária só poderia promover seu surto desenvolvimentista se adotasse o paradigma que determinava o novo padrão de acumulação dominante nas economias avançadas. E esse paradigma era centrado na energia do petróleo, na produção do aço, na indústria automobilística, entre outras características, o que impunha a necessidade de atrair a indústria de material de rodagem, como um todo, para se instalar em nosso país. Até para queimarmos etapas e recuperarmos o atraso de 50 anos em 5.
Quanto a isso, concordo que não havia alternativas a serem adotadas, como também não discordo do efeito multiplicador da renda e do emprego, que a indústria automobilística ERA capaz de gerar naquele período. ERA, em particular, com relação ao emprego.
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Mais ainda, há que concordar que nossa malha ferroviária, a que fiz referência citando como o modo preferível a ser utilizado para o transporte pesado e de produtos de baixo valor específico, apresentava todos os problemas possíveis: era obsoleta, de bitolas inadequadas e ultrapassadas, e pior, várias vezes havia mudança de bitola, o que obrigava a interrupções de viagem e até na necessidade de promover o transbordo ou a baldeação de mercadorias e pessoas.
Além disso, o traçado era vinculado à atividade econômica que dominou o padrão de produção da economia brasileira até a virada do século XX, ou seja: o café.
E, para recolher as sacas de café das fazendas dos barões onde estavam armazenadas, de forma a alcançar os portos onde seriam embarcadas, a malha ferroviária não respeitava nenhuma racionalidade em seu traçado.
Ramais ferroviários, de construção comparativamente muito mais caro que as rodovias, e que por esse motivo sempre foram caracterizadas por terem traçado retilíneo nos principais países em que foram muito estendidas tornaram-se no Brasil, a via para o transporte mais flexível. Até por uma questão de disputa de poder e prestígio político, a linha que passava à frente do armazém de um barão, obrigatoriamente deveria passar também pela porta do local onde o café do barão vizinho se encontrava.
Assim, enquanto no resto do mundo as estradas de ferro eram as grandes linhas rígidas que cortavam o território, cabendo ao transporte rodoviário a responsabilidade de servir de alça de ligação, mais flexíveis, até por que baseadas nos auto-móveis, no Brasil, o processo se inverteu. E às rodovias coube o papel de fazer a ligação das grandes distâncias, assim como das pequenas alças.
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São fatos de nosso desenvolvimento histórico, que explicam em parte a péssima qualidade de conservação de nossas estradas e o nível de acidentes, cada vez mais alarmantes.
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Outro ponto que o Torres pede que se abra espaço para discutir é a necessidade de uma reforma política no Brasil.
Deixo para tratar de uma série de questões que ele sugere como tema para debate, e que aqui transcrevo, em outras oportunidades: "reforma política (idem)? Bicamerismo, parlamentarismo, presidencialismo, voto distrital singular ou misto, pluralidade de partidos?"
Apenas a título de provocação e tratando do bicameralismo: se o Senado é da República, enquanto a Câmara é Federal, creio que ao primeiro colégio caberia tratar dos interesses mais amplos da Nação e da Sociedade. À Câmara, caberia a defesa dos interesses de cada Estado da Federação.
O que isso significa? Em minha opinião, que ao Senador não cabe ficar preocupado em ser a voz desse ou daquele Estado, nem defender os interesses do Estado que o elegeu. Senão ele apenas estaria duplicando a atividade do Deputado eleito para essa finalidade. Desnecessariamente.
Para justificar a existência do Senado então, suas funções deveriam ser as de servir como instância responsável por pensar estrategicamente e pensar os grandes modelos e projetos de desenvolvimento para o país. Pensar a longo prazo, o todo. Sem se imiscuir nas disputas de interesses locais, cada vez mais visíveis, na medida em que se descesse do plano estratégico para os níveis de implantação, mais operacionais.
Fica a provocação.
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