Emitir nota comunicando a existência de fato relevante ao mercado financeiro é norma. Não deveria trazer maiores comoções.
Mas o comunicado relevante feito pelo Banco Panamericano na noite de ontem, terça, 9, a respeito de socorro de 2,5 bilhões de reais obtido junto ao Fundo Garantidor de Crédito, valor obtido por empréstimo concedido, contra apresentação de garantias constante de bens pessoais do seu controlador, causa algum burburinho.
Não apenas porque o controlador em causa é o empresário de televisão e mais que isso, o principal comunicador da televisão brasileira, Sílvio Santos.
Nem porque a notícia chega justo no momento em que se anuncia a saída do ar de Sílvio, por três meses, em comemoração a seus 80 anos de vida.
O que causa estranheza é o fato de que podemos estar perante uma fraude financeira, evento que desde a década de 90 não acontecia no sistema financeiro nacional.
E pior: se houve fraude, como somos levados a crer quando se sabe que o problema diagnosticado no Banco foi de desajuste patrimonial, com ativos desequilibrados com o nível de passivos, essa fraude passou desapercebida pelo escritório responsável pela auditoria externa do balanço do Banco.
Como passou também despercebida para as agências de rating internacionais, algumas das quais atribuíram notas como AA+ ou A+, para a instituição.
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Que as agências de rating já falharam clamorosamente em eventos anteriores, inclusive em relação às instituições americanas que foram levadas de roldão pela crise das hipótecas no mercado financerio dos EUA, é fato de conhecimento público.
Curioso é o prestígio que continuam desfrutando e que lhes permite prosseguir vendendo certificações e enganando incautos.
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Quanto ao fato em si, do empréstimo, nada há que se alarmar. O controlador tem recursos e patrimônio para cobrir as garantias, caso necessário. A utilização dos recursos do FGC é uma das regras do jogo. Para isso foi criado o Fundo, para isso suas reservas são formadas com a contribuição de todas as instituições financeiras, que devem repassar um certo percentual de suas captações e depósitos para o gestor do Fundo.
A alegação de uma possível crise sistêmica, um efeito dominó em curso, cai por terra, exatamente pela pronta concessão do empréstimo por parte do Fundo.
É essa, em última análise, a finalidade de sua criação: garantir a solidez do sistema e o pagamento de parcela dos recursos dos aplicadores, transmitindo-lhes confiança nas instituições bancárias e reduzindo o grau de incerteza.
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Mas, no momento em que o país sai de um processo eleitoral cujo calor se elevou além do recomendado e que um novo governo começa a se preparar para assumir as rédeas do país, dentro de 60 dias, pouco menos; a partir do momento em que a incerteza quanto aos rumos dados à economia por sua nova equipe gestora se amplia; e de questões sempre presentes no horizonte, como a do próprio risco embutido nos negócios bancários e na realização de operações de crédito, porque a ele inerentes, tudo isso, somado ao risco de uma elevação das taxas de inadimplência e da elevação do montante do crédito e de sua participação no total do PIB, levantam dúvidas e causam certa apreensão no mercado.
O caso do Panamericano, no entanto, não é tudo isso.
Não é tampouco a parte visível de um iceberg de maiores proporções.
Ele é apenas o caso de uma instituição mal administrada e que tenta, com as armas existentes, reorganizar a casa e por ordem em suas contas.
E agora, para conforto do mercado, com a gestão sob controle da CEF, que passa a agir como interventora do Banco.
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Nada de anormal, o que assegura que a musiquinha vai continuar anunciando a vinda de Sílvio Santos.
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