Há poucos dias, os jornais noticiaram, no interior de São Paulo, um evento conhecido como o "rodeio das gordas".
Segundo participantes, o grupo escolhia uma colega(???) gorda, aproximava-se por trás e galgando pelas costas da colega, falava ao ouvido da vítima qualquer coisa como "você a coisa mais gorda que eu já vi".
A "graça" da brincadeira estava em ver a colega transtornada para se livrar daquele incômodo que ela nem sabia exatamente, de onde tinha vindo, e o que significava.
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Finda a eleição, diz matéria publicada pela imprensa durante toda essa semana, e especialmente na data de hoje, pela Folha - caderno principal, p. A22 - imediatamente começaram a ser postadas no twitter, por vários cidadãos paulistanos mensagens de ódio, desprezo e preconceito contra os nordestinos.
Foram várias mensagens se referindo aos nordestinos como filhos da p..., e agredindo a população daquela região do país tão somente por terem dado esmagadora maioria à Dilma, no segundo turno da eleição.
Mayara, cujo sobrenome já ganhou suficiente espaço e projeção nos jornais, e que em respeito a sua família prefiro omitir, está sendo objeto de investigação pelo Ministério Público Federal de São Paulo, a pedido da OAB-PE, sob a acusação de ter cometido os crimes de racismo e incitação a homicídio.
Sua postagem na rede socia, recomendava afogar a um nordestino, como se já não fosse suficiente o problema, e inclusive as mortes que as enchentes provocadas pelas chuvas da estação do verão, normalmente causam.
Estranheza maior, é o porque apenas Mayara está sob investigação, tantos os comentários de mesmo teor ou semelhante em sua intolerância foram transmitidos e, inclusive reproduzidos na reportagem já citada da Folha.
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Também de São Paulo, vem à luz um manifesto intitulado "São Paulo para os paulistas", cujo teor é um exemplo de reacionarismo, de obtusidade de pensamento e de preconceito, a julgar por parágrafo publicado na Folha.
De acordo com o manifesto, os males de São Paulo, longe de serem considerados como problemas afetos a toda grande cidade, é um produto da migração nordestina, atribuído especialmente a um processo demográfico recente.
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Não vou aqui fazer comentários recorrentes e defesa da importância dos movimentos migratórios que, tendo origem no Nordeste tinham como Eldorado a capital do estado e o próprio estado bandeirante.
Seria apenas repisar histórias e narrar fatos já suficientemente descritos, e por autores muito mais qualificados.
De minha parte, apenas devo reconhecer que São Paulo é a potência e a pujança que se tornou, exatamente por ter contado com a força de trabalho e com o suor e sangue, e lágrimas do povo nordestino, tão espezinhado.
E, na questão específica da eleição de Dilma, lembrar que, mesmo que a canidadata não tivesse a votação que obteve no Nordeste e que lhe deu a vitória esmagadora na região, ainda assim, ela teria sido eleita com mais de um milhão de votos de frente.
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Mas, não ficamos apenas nesses fatos. Em palestra proferida no encerramento de um seminário realizado em Biarritz, destinado a analisar o estado das relações entre América Latina e a União Européia, José Serra, o candidato derrotado nas eleições presidenciais no Brasil acusou Lula de fazer um populismo de direita.
Valho-me da Folha, que traz a notícia em sua página A14, caderno principal, da edição de hoje. Segundo a reportagem, Serra rotulou a política econômica de ser uma política cambial populista, de direita.
Além disso, acusou o governo de estar promovendo uma desindustrialização do país e, no front externo, voltou a tecer críticas à política externa do governo Lula, por se aliar a ditaduras como a do Irã.
Ora, vimos e ouvimos exatamente esse mesmo discurso em relação às relações exteriores, durante a campanha eleitoral.
Naquela ocasião, a proposta de política externa de Serra era classificada como muito menos preocupada em fortalecer nossas relações de amizade e convivência com as nações vizinhas e irmãs e muito mais pragmática, focada apenas nos interesses comerciais de nosso país. Uma política que propunha privilegiar as nações de maior relacionamento comercial conosco, de forma ampliar e aprofundar nosso fluxo de comércio, ao invés de tentar diversificar mercados e estender nossa participação em outras regiões do comércio.
Evitando estabelecer relações com países de caráter autoritário como o Irã, país fundamentalista e capaz de cometer barbáries como a punição de crimes com o uso da pena de morte, Serra propunha o aprofundamento de nossas relações comerciais com ... os Estados Unidos, que cada vez mais denota traços de fundamentalismo religioso e que não apenas condena criminosos à mesma pena de morte, como ainda tem se notabilizado por promover torturas de prisioneiros, como são exemplo, Guantânamo e as prisões do Iraque.
No fundo, o que se percebe é Serra interessado em defender e promover os interesses do capital vinculado ao grande comércio internacional, e os interesses de seus representantes em nosso país, entre os quais podemos notar a presença de muitas empresas transnacionais.
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Quanto à desindustrialização, fruto da política cambial adotada, que privilegia e propugna o câmbio flutuante e sua manutenção, Serra sabe e por várias ocasiões manifestou ser ela consequência da política de juros exorbitantes que o Banco Central decidiu praticar, como forma de conter a inflação e atrair financiamentos internacionais ao país.
Que as taxas de juros atraiam capitais e que, com isso, valorizem nossa moeda, possibilitando uma ampliação das importações; e que maiores importações impeçam a manifestação da inflação, ao tempo em que se elevam os gastos domésticos internos e melhoram as condições de vida da população do país; tudo isso o professor Serra tem consciência.
Como está também ciente de que exatamente esse mesmo efeito de valorização de nossa moeda é que reduz nossas exportações e torna cada vez mais difícil a competição da indústria nacional, mesmo no mercado interno, com os produtos estrangeiros tornados mais baratos.
Sim, pode-se argumentar que nossa indústria está sendo penalizada por essa política de juros altos que apenas agrada e satisfaz aos mercados financeiros, a suas instituições e aos seus representantes.
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Mas, o que nos diz a Folha, a respeito da postura de Serra na disputa eleitoral, no tocante à denúncia da desindustrialização do nosso país?
Transcrevo para não cometer qualquer falha: "Na campanha, Serra foi orientado a não falar sobre desindustrialização sob pena de perder apoio no mercado financeiro."
Ou seja: mesmo sendo acusado de ter sido derrotado por ter conduzido sua campanha de forma autoritária, personalista, sem dar ouvidos ao partido, exatamente no tocante ao assunto de desindustrialização, tão significativo, Serra se curvou aos interesses de seu partido e obedeceu às recomendações, tudo para não desagradar ao mercado financeiro!!!
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De mais a mais, a proximidade das eleições não permite que nos esqueçamos que Serra, em várias oportunidades, em suas peças publicitárias e mesmo nos debates, acusou o governo Lula de estar dando certo por estar seguindo as mesmas políticas já adotadas pelo governo FHC, de que fez parte, como ministro em duas ocasiões.
E Serra tem razão.
José Luiz Fiori, já desde o início do Plano Real, em seu "Em busca do consenso perdido" argumentava no sentido de que o programa de estabilização estava fadado a dar certo, não por força do gênio de economistas tupiniquins, mas por força de excessiva liquidez internacional; redução das oportunidades de aplicação de capitais rentáveis, em economias maduras, passando por momento de estagnação; pressão por liberalização dos fluxos de capitais por parte dos países em desenvolvimento e com oportunidades lucrativas mais promissoras; e atração de capitais externos, cujo resultado seria transformar a importação de produtos baratos, em arma para manter estáveis os preços.
Também César Benjamim, relatando os resultados de reunião de estudiosos e analistas de esquerda, realizada no interior do Estado de São Paulo, mostra que o êxito do Plano Real no controle da inflação se deveu à âncora cambial adotada.
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Ora, como ministro do Planejamento do governo que deu curso à solidifacação do Real, Serra como bom economista que é, não percebeu a importância de atrair capitais para nosso país e valorizar nossa moeda, naquela oportunidade? Será que ele não percebeu que estava ali já, em gestação, o processo de desindustrialização que todos os economistas não de mercado, já denunciavam e temiam???
Ou o paulista Serra, por estar ainda amargando a derrota e sem conseguir digerir a acachapante derrota para um nordestino - Lula, resolveu apenas agora, perceber as consequências da mesma política que, ora ele defende, ora ataca, dependendo sempre das conveniências da platéia e do momento.
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No fundo, quem faz o jogo da direita, traduzido por defesa dos interesses dos grandes grupos de capital? Quem advoga as políticas de direita? Quem promove as políticas ditas de esquerda, tendo como objeto a maioria da população e objetivo promover a maior distribuição de renda e desconcentrar a renda nacional?
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É. São Paulo, cidade que é a imagem do Brasil para o mundo, é uma bela cidade. Mas por trás de toda sua modernidade, de todo seu avanço e cárater cosmopolita, ainda esconde em suas entranhas, exatamente por poder passar despercebida em sua grandeza e imensidão incontrolável, muito da mediocridade e da mesquinharia e pequenez que a cidade, sinceramente, não merece ter.
E cujos exemplos citados acima, mostram como essa gente pequena e mesquinha, acaba por seus gestos e comportamentos, criando uma imagem de São Paulo que não pode ser aceita por qualquer um cidadão paulista ou não, que tenha um mínimo de bom senso.
Comportamentos que acreditam em São Paulo pairando acima de todo o país e com interesses mais importantes e mais dignos frente aos da maioria do povo brasileiro. E que tornam esse estado uma mera ficção, descolado da realidade em que está inserido. No fundo, atitudes reveladoras de um completo alheamento da realidade desse bando de gente que se acha superior, mas apenas demonstra sua anomalia mental. Gente digna de pena, inclusive da parte do restante dos valorosos paulistas.
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