Que a imprensa em Minas fique alvoroçada e comece a fazer pressão, é compreensível. Afinal, está toda ela já há muito tempo cortejando o Menino do Rio, nosso ex-governador, Aécio.
Mas, é no mínimo inusitada a idéia exposta ontem pelo governador re-eleito do Ceará, Cid Gomes, de sugerir à presidenta Dilma o nome de Aécio Neves, para presidir o Senado.
A desculpa, esfarrapada, é de que o gesto corresponderia a um aceno, um esticar a mão à oposição, de forma a pacificar o país.
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A idéia, já criticada dentro do próprio PSB, só podia mesmo ser apresentada pelo irmão de Ciro Gomes, cujas relações com Aécio são e sempre foram muito estreitas.
E seria risível, se não tivesse precedente no governo Lula, embora as circunstâncias fossem inteiramente diversas.
Afinal, eleito deputado federal por Goiás, pelo PSDB, Henrique Meirelles foi o indicado por Lula, no início ainda de seu primeiro mandato, para a presidência do Banco Central.
Pode-se argumentar que a indicação não agradou ao PT ou ao próprio Lula. Pode-se argumentar que foi uma imposição do FMI, já negociada com todos os candidatos, por força da crise que o país atravessou em 2002 e que obrigou a bater às portas e solicitar apoio financeiro daquela instituição. Pode-se argumentar, como foi comentado à boca miúda, que nem mesmo o nome de Meirelles era o primeiro da lista, senão o terceiro indicado e que foi beneficiado pela recusa, por motivações pessoais, dos outros dois candidatos.
Ainda pode-se raciocinar que o nome de um ex-banqueiro foi uma imposição do mercado. Aqui sim um gesto, talvez, para fazer um aceno de trégua ao mercado - embora para isso bastasse a indicação de Palocci para a Fazenda e a nomeação de seus assessores, todos do mercado.
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Mas, a idéia é risível, porque no caso do Senado não há imposição de qualquer setor econômico ou interesse mais poderoso. Muito ao contrário. E seria no mínimo curioso ver o partido de minoria comandar a casa, com a presidência do Senado sendo derrotada nos projetos em que se jogasse seu prestígio, caso não fossem projetos de interesse do partido adversário de Aécio.
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Aqui então a proposta maluca começa a tomar outra formatação. E, como dizia Magalhães Pinto, já que política é como nuvem que tem um novo formato a cada vez que se dedique um novo olhar para os céus, a idéia de Cid só prosperaria caso Aécio admitisse, como o fez Meirelles, em 2002, em abandonar o partido e mudar de armas e bagagens (ou com firulas e frases de efeito, mais ao estilo da política mineira), para o PSB.
Que essa parece ser a opção mais favorável a Aécio e a seus sonhos de se tornar candidato em 2014, parece-me inquestionável. Embora Aécio perderia o papel de lider da oposição.
Mas, liderar a oposição para em 2014 ter que se bater, internamente contra um candidato como o governador paulista, caso Alckmin esteja fazendo um bom governo, é uma possibilidade que Aécio deve ter em mente. E seria muito desgastante para ele.
Por outro lado, a depender do governo Dilma e dos acertos feitos pela criatura com seu criador Lula, para um possível retorno em 2014, a hora de se candidatar para quem ainda tem muito tempo pela frente poderia ser adiada mais uma vez.
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Independente de planos pessoais, a proposta de Cid só soa muito maluca, porque ultrapassada, antiga, bem ao gosto e jeito de se fazer política tradicional, típica de Minas e da esperteza dos políticos dessas terras, e mais ainda ao feitio de Aécio.
Porque, antes de se fazer qualquer gesto de distensão pensando em nomes, um político moderno estaria preocupado e propondo que a nova presidenta se sentasse com o PSDB e verificasse, dentro das propostas daquele partido, aquelas que poderiam ser encampadas e, mesmo que com pequenas modificações pudessem ser apresentadas como projetos de governo, discutidas e até aprovadas no Congresso.
Mas, esperar isso de Cid talvez seja mesmo, esperar muito.
E como dizia o Barão de Itararé, de onde menos se espera, daí é que não sai nada mesmo.
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