sexta-feira, 12 de novembro de 2010

E dá-lhe provas

E prossegue a discussão e, em minha opinião, a insânia. E retorno ao tema, para reforçar a idéia de que o Ministério da Educação e o INEP já deveriam ter tomado a única decisão capaz de tentar resgatar um mínimo de seriedade que ainda cerca o ENEM, caso reste alguma.
Sem a intenção de fazer trocadilho, e nem digo isso por força da confusão de gabaritos, de questões repetidas, de questões faltando em alguns cadernos de prova, ou até mesmo da inversão de questões e gabarito, ou da dificuldade dos fiscais em transmitirem as mesmas instruções e informações quando constatados os problemas.
Quem já fez qualquer prova e já as aplicou em sala sabe que, nesse momento, recomenda a prudência manter-se calado. Afinal, quantas vezes esses problemas já não aconteceram conosco mesmo? Que professor, por mais cuidadoso e preocupado em revisar as provas não cometeu erros, em especial nas provas de questões fechadas (as chamadas de múltipla escolha), pondo ou deixando de por, por exemplo, a expressão 'exceto' no enunciado da pergunta ou pedindo que o  aluno marcasse a afirmativa que "não" expressava o conceito ou significado, deixando de fora justamente o não.
Depois então da invenção do banco de dados, do control-C e control-V e premido muitas vezes pelo tempo escasso, quantas vezes o professor não percebe que repetiu duas vezes uma mesma questão, ou que deixou de incluir uma questão qualquer.
E pior: sempre percebe depois de já impressas as inúmeras provas, às vezes até dentro de sala. E fazer o que?
Ah! não houve a revisão. Houve. Mas, é o mesmo caso do texto que você e todos os seus colegas e amigos se preocuparam em rever e corrigir. E cujo erro, que passou batido aos olhos de todos, é o primeiro a se manifestar, às vezes de forma escancarada, no trabalho final.
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Mas isso prejudicou a alguns. Se o problema foi levantado em sala, prejudicou também a alunos que faziam provas de outros cadernos, já que todos podem ter suspeitado de que o problema pudesse se repetir também com eles.
Pode-se alegar que a anulação iria prejudicar os que se saíram bem. Mas, volto a insistir, não é nem uma questão de falhas na montagem das provas, ou em sua impressão.
É que, como já noticiado, pode ter havido vazamento de informações quanto ao tema da redação.
E se há já mais essa suspeita ou caso se confirme que houve a quebra do sigilo das provas, alguém foi beneficiado e por si só isso já macula todo o processo.
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Como era de se esperar, embora curioso, a Justiça amplia a confusão, com uma juíza dando uma sequência que é tornada sem efeito por um Tribunal de instância superior.
E, claro, para tudo e qualquer decisão, sempre cabe recurso. Ou recursos que vão protelando a decisão.
Em minha opinião, até como exemplo de Educação e Cultura, independente de obter sentenças que o beneficiem e sustentem a validade do ENEM, o Ministério ganharia muito mais, antecipando-se e decretando a anulação dessas provas e a realização de novos exames, logo em seguida.
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E já que falamos de provas, Tiririca realizou as provas ontem. E leu e escreveu, pelo que contam os jornais.
Vão dizer, mas errou 9 das grafias, em 10 palavras.
Então está na média dos alunos que frequentam as faculdades do nosso país - assunto que já tratei ontem, aqui mesmo no blog.
Sim. Já tive alunos que fui obrigado a chamar a um canto e recomendar que procurasse um professor de português. Isso porque ele conseguiu chegar até o quarto período da Faculdade, onde me encontrou na matéria de Macroeconomia.
O raciocínio econômico, um primor. Rapaz de inteligência viva, esforçado, curioso, interessado. Atento. Mas, um zero em português. Com o detalhe de que, por mais erros que apresentasse em sua grafia, tais erros não impediam de o significado das palavras ser percebido e o aluno apresentar um raciocínio com lógica. Não raro, correto.
Em outras oportunidades, como meus professores do primário, obriguei os alunos a copiar 10, 20 vezes a palavra excedente, para só então revelar-lhe a nota. Para que ele memorizasse a grafia, e não ficasse escrevendo a palavra de 10, 20 formas distintas, tentando achar a forma correta.
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Tiririca leu. Mal, mas entendendo o conteúdo. E escreveu. Com erros. Mas quantos escrevem nos dias de hoje, sem erros, mas também sem qualquer sentido ou conteúdo. Frases do tipo, meio assim, com o significado e o conteúdo, digamos, meio do tipo....OCAS.
Só.
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E, diz o povo, para não perder a mania bem típica de ironizar e brincar com a vida, para torná-la mais leve e fácil de ser levada avante: aprovado, o MEC pode usar Tiririca para corrigir as provas.
Ou: porque Tiririca correu para fazer o seu exame nesse momento que Lula está fora do país? Devia esperar para que Lula pudesse corrigir o ditado.
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Brincadeiras, algumas até desrespeitosas, à parte, o episódio Tiririca revela, volto também a insistir no tema, é muito de preconceito.
Conceitos firmados bem antes de a situação concreta acontecer: de que um palhaço, nordestino, vindo das classes mais humildes, não poderia se tornar representante da elite do pensamento e da cultura do Estado mais rico do país.
O resto sim, é marola.
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E se houve falsificação da declaração apresentada à Justiça Eleitoral? E se houve crime?
Ao ler e escrever, Tiririca demonstra que poderia copiar ele mesmo a declaração. Poderia levar um tempo maior para redigir a declaração, mas o faria. Com erros toscos de português, mas o faria. Se copiasse então a frase escrita para ele, nem erros talvez ele cometesse.
O motivo alegado por ele para ter pedido ajuda na redação da declaração pode ser confirmado, clinicamente. Ele tem mesmo dificuldade nos movimentos da mão?
Questões tão simples, em minha opinião, de serem verificadas, que não dariam projeção ao promotor.

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