Curiosamente, só agora a Globo em seu jornal da noite admite e faz reportagem com o fenômeno da desindustrialização brasileira.
E, mesmo assim, admite muito timidamente a questão do câmbio e mais timidamente ainda, a responsabilidade no processo já há muito em marcha, da taxa real de juros praticada na economia brasileira.
Menos mal, que tenha emitido sinais da existência de alguma mudança no horizonte.
No jornal de ontem, já falou em perda de competitividade da indústria nacional, incapaz de competir seja nos mercados externos, seja em seu próprio mercado com produtos importados.
Os dados falam de aumento de utilização de componentes importados pela indústria na Zona Franca de Manaus, com a figura mostrando a montagem de aparelhos de televisão de led, ou tela plana.
Mas, falam também de aumento de componentes importados, inclusive, na indústria tradicional, como a têxtil, etc.
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Chamado a opinar, o comentarista econômico(?) Sardemberg falou de câmbio, de juros reais acima de 5%, comparado aos 2% da China e da carga tributária muito superior à chinesa, praticada aqui no Brasil. Citou ainda um levantamento que mostra que o ambiente de negócios no Brasil é bem menos favorável à atividade empresarial que no país amarelo.
O professor da GV, Ernesto Lozardo, comentou inclusive que há sim, competitividade no chão de fábrica, no país, atribuindo a responsabilidade pela perda de alegada de competitividade a outros fatores, destacando-se a carga tributária (claro!), mas a infra-estrutura, o custo Brasil, etc.
Cito a questão da carga tributária, porque a Globo só começou, em minha opinião a tratar do tema, como parte de uma campanha que passa pelo caminho tradicional de crítica à carga tributária, a um possível desequilíbrio orçamentário, até redundar na necessidade de se reduzir os gastos públicos e o tamanho do Estado.
Ou seja, como dizem os argentinos: más de lo mismo.
O roteiro é suficientemente conhecido.
Por esse motivo, a Globo trata da indústria, mas não abre mão de ficar bajulando o setor financeiro, mais forte economicamente e mais poderoso, e não dá a devida ênfase à política de juros exorbitantes praticadas na economia brasileira, em sua taxa básica que é a que trata de remunerar os empréstimos feitos pela sociedade ao governo.
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Porque os bancos e instituições financeiras emprestam a juros bem mais elevados, exceção feita exatamente aos bancos públicos, em especial ao BNDES, à sociedade.
Tão mais elevados que, conforme consta do portal IG, os bancos Bradesco, Itaú, Santander e Banco do Brasil lucraram a bagatela de 10,2 bilhões de reais no 3° trimestre de 2010, superando em 32% o lucro obtido no mesmo período do ano passado.
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Mas é bom ver e ouvir a Globo sendo obrigada a admitir a possibilidade de desemprego na indústria e a queda da participação relativa da indústria nacional no PIB. Suspeito é o momento, uma vez que, depois de anos e anos de política econômica de juros elevados e câmbio valorizado e vultosa entrada de capital externo, até mesmo para aplicações produtivas, e de tanta denúncia feita da possibilidade de crise na conta de transações correntes e de desemprego, ao fim do governo Lula, que expandiu tanto o emprego - o que vitaminou sua popularidade, é que a Globo admite pela primeira vez o problema.
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Quantas vezes a questão da desindustrialização não foi objeto de tratamento, inclusive pelo professor da GV, Bresser Pereira, como consequência potencial de uma política cambial, derivada de uma política pro muitos considerada equivocada de juros?
Quantas vezes a discussão do fenômeno da "dutch disease" ou doença holandesa, não foi abordada pelos analistas econômicos que, longe de responsabilizarem a exportação elevada de produtos primários pelo Brasil, com destaque para o aço, ferro e soja, apontaram como responsável pelo elevado influxo de capital estrangeiro a política irresponsável de juros elevados?
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Agora que se inicia a exploração do petróleo do pré-sal, é bom lembrar a possibilidade de um fenômeno como o ocorrido na década de 70 na Holanda (daí o nome), é muito maior: sermos vítimas de tanta entrada de dólares que, valorizando nossa moeda ainda mais, fique muito mais barato comprar fora de nossas fronteiras, seja produtos de consumo do dia-a-dia, seja peças, componentes, partes, matérias-primas.
A indústria brasileira não pode deixar de ser contemplada pelo plano de governo de Dilma, se quiser continuar existindo, forte, como convém a um mercado e a uma economia que se deseja forte e importante.
Urge, então, que se dê a máxima atenção à elaboração e implantação de uma política industrial, tema muito caro e em que tem vasto conhecimento e experiência o professor e presidente do BNDES, Luciano Coutinho.
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Só para não passar em brancas nuvens, conforme o professor Eduardo Augusto Guimarães trata em seu Acumulação e Crescimento da Firma. Um estudo de organização industrial - 1982, Rio de Janeiro - Zahar que, apesar de tanto tempo, mantém ainda sua atualidade, a vinda de empresas e capital externo para nosso país, mesmo que na esfera produtiva, implica na possibilidade de maior volume de importações por força da compra intraempresarial, já que muitas vezes, a empresa transnacional que aqui se instala vai dar preferência à aquisição de matérias primas em outras empresas do mesmo grupo.
Por outro lado, não há necessariamente a preocupação dessas empresas, em disputar mercados com empresas do mesmo grupo, que fornecem o mesmo tipo de produtos, já que longe de trabalharem preocupadas com o pais em que se instalam, como é óbvio, as empresas transnacionais operam com planejamento em escala global, visando apenas e tão somente a maximização do grupo do conjunto de empresas e não de unidades isoladas.
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Então, desde a adoção do plano Real, centrado na política de juros elevados e na âncora cambial, esse é o problema que corremos, mesmo com tanto capital sendo direcionado a nosso país e a Globo tão satisfeita anunciando o fenômeno - de nossa economia servindo de pasto para a valorização e "engorda" do capital internacional: a desindustrialização, o desemprego e, quem sabe, no futuro, uma dependência externa ainda mais ampliada.
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