Vejo no site da Folha de São Paulo a entrevista de Dominique Wolton, sociólogo francês que faz interessante crítica às redes sociais criadas na Internet, parece-me no suplemento Equilíbrio.
Para o diretor do Centro Nacional de Pesquisa Científica de Paris, ao contrário de fortalecer a constituição da democracia, o que a internet proporciona, em especial por meio da formação das amplas redes sociais, é a formação de comunidades em que todos os participantes apenas compartilham interesses comuns.
Diferente da comunicação real, que exige o contato físico, e eu diria que o contraditório para acontecer, a internet e as redes sociais trazem a falsa impressão de igualdade dos indivíduos, que podem emitir livremente suas opiniões, a respeito do tema e da forma que o desejarem.
Segundo o pesquisador, essa participação na "conversa virtual", contudo, não caracterizaria um processo real de comunicação, que exige mais que a oportunidade de manifestação por um lado, a existência de um receptor da mensagem, que não adote apenas uma postura passiva.
Para o sociólogo, o que está em gestação é a formação de uma sociedade individualista de massa, capaz de gerar o fenômeno da solidão interativa.
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Tendo criado um blog, e preocupado em mantê-lo com temas variados e atualizados, confesso que sinto, na maior parte das vezes, uma sensação que ilustra bastante adequadamente o processo que o professor descreve.
Às vezes, comento assuntos que tenho certeza constituem a preocupação e o tema de discussões de amigos e conhecidos, mas não vejo retorno.
Dá-se comigo o mesmo que algumas pessoas já manifestaram em relação, por exemplo, ao twitter e às mensagens que a maior parte das pessoas postam no microblog.
Afinal, tanto lá como aqui, o que nos leva a querer omitir nossas opiniões, ou prestar informações do que estamos fazendo e onde, e com quem???
Porque achamos importante estarmos participando e nos preocupamos em parar à frente de um aparato tecnológico qualquer, para perdermos alguns segundos ou até horas, apenas tentando nos manifestar, marcarmos nossa presença no mundo.
De minha parte, já teve certo momento que acreditei tratar-se de apenas uma grande pretensão: o fato de acreditar que tinha algo a dizer.
Hoje, garimpando muitas vezes ouvidos que me ouçam; insistindo com amigos, com colegas e parentes que visitem meu espaço virtual, entendo perfeitamente bem que não é a questão da vaidade pessoal que pode ser a explicação para essa necessidade de se manifestar e ... ser ouvido/visto/sentido.
Na verdade, creio que o que nos leva a estar preocupados em conectar com o mundo e com o outro, é a tentativa de ruptura de um ato de isolamento, que nosso estilo de vida e de trabalho, nossas obrigações profissionais e os horários que nos controlam, nos impõem.
Mas, duvido que essa conexão virtual que se estabelece seja capaz de nos dar satisfação. Porque precisamos de ter a certeza de ter atingido o outro, nosso leitor.
E, para isso, uma conversa olho no olho, franca, aberta, é muito mais apta a nos transmitir essa impressão de sermos parte. De estarmos inseridos. De não sermos ninguém.
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Fico me perguntando se teria alguma pessoa que se dissesse satisfeita apenas pelo fato de saber que pode emitir suas opiniões, independente de ter ou não sido ouvido.
Por isso, a busca frenética por fazer parte das comunidades tratadas pelo sociológo francês, comunidades que, em geral, reproduzem apenas a nossa própria idéia e maneira de ver o mundo. E que, por nos trazer essa consciência, não nos traz a questão de estarmos sendo lidos/ouvidos, e de nossa opinião ter importância.
Muitas vezes, os posts dessas redes nem precisam ou são lidos. Contenta a seu participante, saber que estar registrado é já o sinal de qual é a sua opinião. E embora a opinião acabe sendo igual para todos, o que impede o contato mais rico do debate, da troca de idéias, resta pelo menos a certeza de que aqueles inscritos sabem.
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Que a internet fascina por sua rapidez, pela informação que nos alcança em questão de segundos, e que parece transformar cada vez mais nosso mundo em uma aldeia global, da qual todos participamos, é inquestionável.
Mas, o ato de parecer nos inserir não assegura, que isso esteja acontecendo e nos transforma naquilo que é o seu oposto: a solidão em meio à multidão.
De mais a mais, a possibilidade de cada um acessar e ir buscar o assunto que mais o interessa, a opinião que mais o agrada, de forma que ninguém pode controlá-lo ou impor sua vontade, dá a idéia de uma liberdade que é extremamente atraente.
Liberdade que pode levar o individualismo ao extremo de negar a própria realidade social que nossa condição humana nos impõe.
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Não vou me alongar em comentários (que alguém lerá???). Mas é essa velocidade de informações que a rede proporciona e essa avassaladora capacidade de transmissão de imagens, legada pelo avanço tecnológico, que explica também, em parte, a dificuldade com que os profissionais da área da educação deverão, a cada dia mais, se defrontar.
Porque é tão mais fácil ver a solução pronta, para o problema formulado. É tão mais rápida a absorção da informação que nos é transmitida pelas imagens disseminadas pelo mundo afora; é tão mais agradável estar socialmente enturmado no mundo virtual, mesmo que como sujeito passivo de um meio que nos impige, em várias ocasiões, uma quantidade significativa de material de qualidade, no mínimo, desejável, que a apresentação de problemas e a transmissão de conhecimentos em sala de aula, ainda através da oralidade e mesmo da experimentação real torna-se completamente desprezada.
A idéia de aula tradicional, da presença do professor orientador que apresenta as questões e estimula a busca de respostas; que coordena o processo de pesquisa e busca das soluções e que estabelece e organiza, ao final desse processo, os grupos e classes de abordagens encontradas torna-se cada vez mais desafiadora, por estar competindo em condições desfavoráveis com uma outra forma que toca direta e imediatamente o aspecto sensorial.
Por isso, em minha opinião, a queda da qualidade da formação e do processo de educação formal, em que o conhecimento deve ser obtido através do doloroso processo de leitura individual, da reflexão e análise; da consideração de outras idéias e abordagens troca de idéias, todos sob a orientação do professor ou de um facilitador.
Porque esse processo, por suas qualidades, priva a pessoa de estar presente no mundo, recolhida no processo de aprendizagem. Impede que as relações mais de pele sejam ampliadas. Provoca, pois, mais renúncias e sofrimento que o outro método, mais agradável, rico e inovador.
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Mas, é no processo de reclusão, reflexão e análise e de extração de nossas próprias idéias e conclusões que aprendemos. Não no processo de ver , em dado momento, a solução pronta, que será substituída, 30 segundos depois por outras imagens, outras idéias e conceitos, de forma a que a mente veja, mas não tenha condições de absorver, entender e conservar.
De minha parte, sempre achei que obter o conhecimento era o prêmio que a tudo compensaria. E sempre achei que, por esse motivo, aprender seria prazeiroso por si só, o que implica em não necessitar ser um processo ágil e divertido, para facilitar a vida e prender a atenção de nenhum indivíduo curioso e desejoso de saber.
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