sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Armadilha da liquidez nos EUA

Juros já iguais a zero, em termos nominais. Política monetária já sem mais instrumentos para estimular a recuperação econômica americana. Desemprego insistindo em permanecer em taxas elevadas e o FED, o BC americano tendo, entre suas atribuições fundamentais, não apenas controlar a moeda e debelar a inflação, mas também evitar o desemprego.
Por força das condições econômicas deterioradas, Obama derrotado nas eleições para a renovação do Congresso.
Sobre a derrota, apenas a constatação de que, em geral, depois do desgaste natural dos primeiros dois anos de mandato, os presidentes americanos costumam amargar resultados contrários. Exceção a Bush, por força da comoção nacional que foi criada depois do 11 de setembro de 2001.
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Para tentar reativar a economia americana, o FED decidiu ontem injetar 600 bilhões de dólares em circulação, comprando títulos do tesouro americano mantido em poder dos bancos.
Com reserva aumentada, os bancos podem se decidir a emprestar, expandindo o crédito para o consumo e tornando os investimentos mais atraentes.
Isso, caso não aconteça uma das duas alternativas: a restrição ao crédito, por força do medo dos bancos do fenômeno recentemente vivido; ou por medo de colocarem em marcha um fenômeno de seleção adversa, onde os tomadores de crédito seriam aqueles com projetos de maior risco ou menos preocupados em efetuar o reembolso de recursos posterior.
Não há como esquecer que há três anos atrás, o excesso de liquidez da economia americana, turbinada pelos déficits orçamentários do governo Bush, deu origem a uma bolha de ativos que teve como principal símbolo os imóveis residenciais.
A nova injeção de recursos poderia gerar um fenômeno semelhante, a menos que os bancos praticassem as restrições ao crédito.
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Mas, não basta ter oferta de recursos na mão dos bancos, se não houver interesse dos agentes em demandar esse crédito.
E, se em 2007 os gastos de consumo estavam dando lugar a retenção de moeda para efeito de especulação, nada indique que isso não poderia estar se repetindo ou vir a se repetir agora.
Uma espécie de armadilha da liquidez que leva as pessoas a retirarem moeda do circuito produtivo, gerador de riquezas, para ficarem especulando.
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E não há como deixar de pensar na hipótese de que, sem aplicações rentáveis em títulos denominados em dólares, essa massa de dinheiro não vá se espraiar para o exterior, causando verdadeiros derrames de dólares em países que, como o Brasil, praticam taxas de juros extremamente elevadas e atraentes.
Caso isso ocorra, pode-se esperar problemas de valorização de nossa moeda, e perda de mercado para a colocação de nossos produtos, aliado a problemas de excesso de importações, déficits comerciais crescentes, maior dependência dos financiamentos de capital, problemas para o nosso desenvolvimento industrial e desnacionalização de nossa economia, no pior dos mundos.

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