Meu filho Daniel interpelou-me ontem a respeito do comentário que postei, relativo à curiosidade de como o candidato José Serra vai conseguir atender a tanta promessa de campanha que vem fazendo, como a de elevar o valor do salário mínimo, conceder o 13° pagamento para a bolsa família, colocar dois professores em sala de aula e, ao mesmo tempo, cortar gastos públicos, reequilibrar as contas públicas para, como insistem os conservadores de plantão, poder criar uma folga que permita a redução da taxa de juros - a Selic.
Como nenhum filho é perfeito (risos!!!) e felizmente no caso de minha família, todos têm pensamento próprio e não são meros autômatos repetindo os pensamentos dos pais, meu filho questionou-me o fato de, em querendo ter um blog, segundo ele, o mínimo que eu deveria era ter isenção.
Perguntei-lhe o que ele queria dizer com a crítica e ouvi ele retrucar que eu deveria fazer o mesmo em relação às promessas de Dilma.
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Provoquei: que promessas da Dilma?
Sem perder o rebolado, ele reconheceu não saber nem mesmo se a candidata fez alguma promessa.
E questionou, mas ela também fez promessas não?
Encerrando a conversa eu lhe respondi que não. Que me recorde, a candidata não fez qualquer promessa especial, ou específica.
Seu discurso foi, em minha avaliação, apenas no sentido de que iria continuar as obras e planos do governo a que serviu e a que pertenceu.
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O que vimos na campanha da Dilma?
Ela prometer que vai continuar a tocar as obras do PAC.
Ela não disse nem a que ritmo, nem que obras prioritárias, apenas que irá tirar do papel as obras não iniciadas e dar continuidade às já em andamento.
Ela prometeu que vai fazer 500 UPAs, as Unidades de Pronto Atendimento na Saúde. Quantificar é sempre perigoso, e aí está, na maior parte das situações o motivo para críticas e cobranças posteriores.
Mas, se considerarmos apenas a idéia e não o número, a idéia de fazer UPA ou transformar postos de saúde nestas unidades, a meu ver, de leigo e ignorante do tema, é perfeitamente factível. Não 500, mas 50???
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A candidata prometeu continuar resgatando da pobreza milhões de famílias. Segundo ela, ampliando ainda mais a cobertura dos programas de benefícios sociais de que o governo Lula se pretende artifice e que tem seu carro chefe no bolsa família.
A candidata prometeu fazer uma política de cunho mais social. E prometeu que, para isso, vai continuar criando um ambiente que permita ao país continuar crescendo, de forma sustentada, como o governo de que ela participou logrou promover.
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Se pensarmos bem, não houve projeto fura-fila. Não falou de obras, a não ser continuar tocando as ferrovias Transnordestina, Norte-Sul, etc. Falou em melhoria e construção de portos - não disse nem quais, nem quantos.
Não falou em trem-bala, nem em projetos mirabolantes, nem mesmo obras vinculadas aos eventos da Copa do Mundo, ou da Olimpíada.
Falou sim, de continuar abrindo escolas técnicas, e continuar dando ênfase ao Pro-Uni, estendendo sua cobertura.
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Ou seja, falou muito mais do que Lula fez durante seu mandato, e ainda está fazendo, que de propostas novas. Quando prometeu muito foi dar sequência, dar continuidade.
Procurou, em minha opinião, de carona no governo de que fez parte, passar à população a questão que sempre foi objeto de cobrança no país: a de continuidade no que está dando certo e funcionando.
Falou em expansão, de forma até meio que descompromissada. Expansão de que, de quanto: números, metas, percentuais??? Habilmente, nada!
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Enquanto isso, a campanha de Serra, desnorteada e sem bandeiras, começou elogiando Lula e seu governo ( e continua elogiando até as últimas peças publicitárias), prosseguiu adotando bandeiras do governo de Lula (aqui, corretamente, no sentido já mencionado de prosseguir fazendo o que vem mostrando que está certo!) e se enveredou por uma discussão de fundamentalismo religioso tão equivocada que acabou perdendo o foco e nem percebendo o vazio do discurso de Dilma.
Vazio, bem entendido, no sentido de que vago, impreciso e apenas calcado no que se fez e está sendo feito.
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Perdido, o candidato Serra achou o tro-lo-ló e nele se emaranhou.
Pena, a campanha poderia ter sido muito melhor e o nível bem diferente.
É isso, meu filho. Tá aí postado o comentário sobre o discurso de Dilma que, sei, não te deixará satisfeito, e que você continuará classificando como parcial.
Apenas um detalhe: time de futebol, religião, opção sexual, política e ideologia, são questões de foro íntimo. A gente pode e tem o dever e o direito de defender. Mas não impor. E aqui mais uma vez um reparo: o impor não significa que, em tendo o poder, não posso agir como penso certo e acredito. Afinal, se tenho o poder supõe-se que tenha sido outorgado pelo povo e, portanto, gostem ou não, queiram ou não, isso é fruto da democracia em sua plenitude.
Impor que eu disse que não pode, é obrigar o outro a pensar como nós. Porque respeitar pensamentos divergentes é de lei. Nem se discute.
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