sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Polícia, para quem precisa de Polícia

Embora não seja uma postura correta pinçar uma frase de um discurso e tecer qualquer comentário, já que perde-se o contexto em que ela foi dita, não posso deixar de comentar a frase dita ontem, em discurso na plataforma da Petrobrás, de nosso presidente Lula.
Primeiro, para não ser muito injusto, dizer que a frase passou a idéia de que, "nunca antes na  história desse país" a polícia havia subido os morros cariocas para dar aos cidadãos daquelas localidades mais que violência institucionalizada. E, graças à nova política implantada pelo governo do Rio, agora a polícia subia morros para ajudar, garantir proteção e segurança, trazer àquele povo desassistido, mais conforto. Em síntese, trazer tardiamente a presença do Estado, tentando remediar e cobrir o espaço que, por vazio, foi ocupado por traficantes e marginais.
Nesse sentido, a polícia pacificadora teria e tem muito a contribuir e colaborar para a integração de milhares de pessoas e, em especial, de jovens.
Tudo bem, que essa era a idéia, acho eu.
Mas, daí a dizer que a polícia vai bater em quem tiver que bater, e dar proteção aos demais vai uma distância, a meu ver, considerável.
Primeiro, porque é inadmissível, uma autoridade, a maior de nosso país, sair falando ou transmitir a idéia de que a polícia tem que bater. Segundo porque a polícia não tem, não deve, não pode bater em ninguém. Prende e transporta para a detenção ou centro de triagem. Se houver reação, responda à reação, com a mesma arma e intensidade, na defesa, que a arma ou intensidade da reação - que é o que caracteriza o instituto da legítima defesa.
Vá lá, responda a bala à violência do ataque feita com armas de fogo. Talvez, até possa ser aceitável que também ao ser humano, policial, seja dado o direito de passar pelo estado descrito como de intensa comoção. Admito, nesse caso, que ele possa até exceder-se como eu mesmo talvez me excedesse.
Penso, como exemplo, em uma situação em que você flagra algum adulto, pedófilo, fazendo mal ou molestando uma criança. Às vezes, como acontece não raramente, molestando até pessoas portadoras de deficiência.
Ora, no calor do momento, dar umas pancadas, como reação, acho até tolerável, embora ao policial, treinado para essas situações, a comoção deveria ser minimamente contida. Controlada.
Mas, prendeu, dominou que seja o suspeito ou criminoso, nenhum tapa mais pode ser justificado ou aceito.
Pelo menos, esse é o meu pensamento. Para que eu não possa nunca me tornar o mesmo, e às vezes, barbaramente até mais selvagem ou violento que aquele que eu considerava criminoso.
E a frase do Lula, mesmo tirada do contexto, pode deixar passar a idéia de que há torturas que são ou podem vir a ser toleradas. Porque muitas vezes o "cara" merece mesmo tomar uns tapas.
Olha, eu até creio que todo mundo pode pensar assim. Agora manifestar-se abertamente nesse sentido, ainda mais uma autoridade, que pode ser interpretada como dando uma autorização tácita, é muito perigoso.

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