quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Discurso de paraninfo

Em respeito ao título do blog, o primeiro texto que vou postar é o discurso de paraninfo que pronunciei ontem, na colação de grau dos alunos de Ciências Econômicas, do Centro Universitário UNA.
Ah! sim. Sou professor de Economia e, por esse motivo e a amizade da turma, fui o escolhido.
Então ao discurso:

Prezados Formandos
Circula pela internet a estória do fazendeiro que, diz a lenda , comprou uma ratoeira e armou-a em seu estábulo. Desesperado com a notícia, o rato saiu à procura de ajuda, comunicando o perigo, primeiro à galinha, depois ao porco e, finalmente, ao boi a quem pediu que usasse seu tamanho e força para quebrar o apetrecho.
De todos obteve a mesma reação: isso não é problema meu. Eu não sou rato. Rato é que cai em ratoeiras. Desolado, o rato preocupou em se esconder e, mesmo com fome saía do esconderijo apenas em casos de necessidade extrema.
Ignorando a existência e a localização da ratoeira, a mulher do fazendeiro acabou sendo a primeira vítima da geringonça, abrindo uma feia ferida em sua perna.
Com o passar dos dias e a ferida se infeccionando, uma vizinha sugeriu que lhe servissem uma comida mais forte, capaz de fortalecer o organismo e acelerar a recuperação da amiga. Decidiram, então, matar a galinha, servir uma canja, em vão.  A ferida continuou sem se cicatrizar, atraindo uma romaria de amigos e parentes em visita à enferma. Para alimentar àqueles que vinham prestar sua solidariedade, o fazendeiro decidiu matar e servir o porco.
Finalmente, a chegada à fazenda de um médico recém-formado, prescrevendo um tratamento inovador, permitiu à mulher uma recuperação surpreendente.
Para comemorar o restabelecimento da mulher, o fazendeiro resolveu promover um churrasco, matando o boi. E todos viveram felizes para sempre.
Ou não?
Caros formandos, desnecessário lembrar Horácio. Ou não? De ti fabula narratur. Que em bom português revela que a história fala de vocês, de cada um de nós.
E tanto pode se aplicar ao tsunami verde que varreu o país nas eleições de domingo último, quanto a outras considerações que, creio, foi a certeza de que eu faria nesse discurso que levou vocês a me escolherem, com muita honra, seu paraninfo.
Quanto à onda verde, a reflexão necessária: o desafio de produzir, sem depredar. De promover o desenvolvimento, sem exaurir o manancial de onde extraímos a substância fundamental, base primeira ou prima de nossa riqueza material. Preservar a natureza sem esquecermos que, por sermos pobres, ainda temos muito que nos preocupar em produzir, para preservar o povo. 
Aos números: o país que deu a lição de civismo e cidadania domingo último, tem  67,5 milhões de seus eleitores ganhando, no máximo, até dois salários mínimos. Do total, 13 milhões ganham menos de um salário mínimo e figuram entre os 28 milhões excluídos do sistema público de aposentadoria e auxílios trabalhistas. São portanto, ninguém, como diz Clóvis Rossi, bem distante dos 30 milhões que diz a lenda estão se transformando na nova classe média.
No país que se deseja uma democracia representativa 49% dos eleitores fizeram, no máximo, o curso fundamental. Eleitores que elegem Tiririca, para repúdio e escárnio de nossa elite intelectual. Entretanto, mais de 60% de seus alunos não têm a capacidade adequada na área de ciências, o que coloca o Brasil no 52º lugar entre 57 países, no quesito ciência.
Talvez cause surpresa saber que a sétima ou oitava potência econômica mundial é apenas a 75ª colocada quando se mede o seu desenvolvimento humano.
Para não nos excedermos no tempo, e não esgotar sua paciência, apenas lembremos uma última verdade. Embora se proclame a quatro cantos a redução da desigualdade os dados indicam que enquanto 12,6 milhões de famílias vivem com R$ 13,1 bilhões dedicados ao Bolsa Família, o andar de cima, composto por 20 mil famílias que são os portadores de títulos da dívida pública receberam  a bagatela de R$ 380 bilhões, ou 36% do Orçamento-2009.
Ainda assim, é um país mais feliz do que era há oito anos ou há 16 anos. E com ou sem Tiririca, que os doutos querem cassar para elevar o nível do Congresso, é importante reconhecer com Boechat, do Jornal da Band, que a imagem que se tem dos políticos hoje se  deve ao político de terno e gravata, malandro profissional, que freqüenta coluna social e nunca se dá mal.
Para concluir, gostaria de parabenizá-los por mais essa etapa concluída. E transmitir meu cumprimento especial a todos aqueles, pais, mães, irmãos, companheiros, filhos, amigos que lhes deram apoio e permitiram a cada um de vocês tranqüilidade e energia para chegarem até aqui.
E despedir-me com uma última mensagem. Toda a pobreza exposta de nosso país, não pode tampar o brilho que emana da energia de cada um de vocês e nem pode impedir de se manifestar o seu desejo de mudança e melhoria.
Lembrem-se, não há aventura e prazer na inércia, como não há alternativa senão a promoção da mudança. Então, como nos recomenda o poema de Clarisse Lispector, “mude mesmo que começando devagar, porque a direção da mudança é mais importante que a velocidade”.
Transforme sua vida. E aja de forma a ter certeza de que você foi capaz de fazer a diferença para alguém.
Felicidades.

4 comentários:

Unknown disse...

Oi Paulo obrigada por toda contruibuição que vc nos deu e certamente ainda nos dará... adoramos o discurso viu!!!! ah você nao foi ao Albanos ne .... perdeu ... tomamos +- uns 52 chopps...rsrsrs
Abs,
Valéria

Daniela disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Daniela disse...

Excelente!!!!!!!!!

Anônimo disse...

Muito bom! Muito bom mesmo! Professor excelente e pessoa de caráter melhor ainda.