quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Terra brasilis e o câmbio

Saiu na Folha de segunda última uma entrevista com Sidnei Nehme , diretor de uma corretora de câmbio em São Paulo, economista respeitado no mercado.
Ele deixa claro que o problema de um crescimento de mais de 7% no Brasil é, sim, muito importante. Porque para haver esse crescimento nós temos que ter importação em alta. E a importação, de quebra, ajuda a baixar a inflação e mantém os preços sob controle aqui dentro.
Quanto aos juros, ele alega também que parte de seu patamar tem a ver com o fato de o governo estar gastando muito mais que a sua possibilidade de arrecadação. Ou seja, o juro é para financiar o déficit e a grande sangria do governo, junto à sociedade. Ocorre que, com juros altos o governo se financia, atrai dinheiro, a abundância de dólares faz o real se valorizar, o que ajuda a atender à demanda da população e empresários e ajuda no combate à inflação.
Como a quantidade de dólares é muito grande, o governo tem de convertê-los em reais e, para evitar uma emissão exagerada, compra as cambiais com títulos.
Detalhe: o Banco Central comprou muito mais dólares que o fluxo de dólares para o país, comprando futuro.
Eu acho que é isso que faz com que mais dólares acorram ao Brasil, porque se tiver segurança e certeza de que o dinheiro vai entrar aqui e será automaticamente comprado pelo governo, sob a forma de títulos, esse dinheiro especulativo não terá nenhuma incerteza. E é muito melhor ganhar 11% e quebrados que as taxas, entre 0 e 0,5% que Japão e Estados Unidos estão pagando.
Agora, vejamos: de um lado, está o Banco Central comprando e fazendo reservas com um custo fiscal elevadíssimo, para manter a meta de inflação e dizer da competência para conter a inflação mesmo com a economia bombando.
De outro, o ministro da Fazenda, procurando agir para conter a enxurrada de dólares que entra, através da elevação do IOF para capital estrangeiro. Parece que o governo não se fala e que não há um objetivo único. Parece haver um conflito.
De qualquer forma, o dinheiro que vem e entra é de péssima qualidade. Curtíssimo prazo e especulativo. Vem para aproveitar e, como disse o entrevistado, entra aos poucos, mas se houver motivos, sai em bloco e às carreiras, promovendo desestabilização.
Então mesmo nossas reservas podem não ser suficientes, nessa hora, para conter a saída em fuga, caso ela ocorra.
Resumindo: se tem o governo comprando em grande quantidade, para fazer apenas reservas, o dólar deveria estabilizar e subir. E não cair. Se o IOF aumentou, o dólar deveria parar de entrar e estabilizar ou subir e não cair.
Se os juros são altos é em parte porque o governo gasta muito (inclusive pagando juros da dívida pública). E tem de mantê-los altos, o que atrai dólares.
Se entram dólares, o governo emite mais títulos e isso eleva a sangria dos juros e do déficit fiscal.
Se entram dólares o BC controla e mantém a inflação contida.
E se o BC compra até o dólar que ainda não entrou e dá certeza de que continuará agindo assim, por força de um pretenso combate à inflação, então quem tem dólares vai entrar mesmo com seu dinheiro.
Simples, não? Típico de Macunaíma na Terra Brasilis.

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