quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Poema sobre perdas

A gente enterra tanta coisa
As nossas frustrações, nossos anseios
Nossas opiniões e nossos medos
A gente enterra na memória
As ilusões e até o caso de amor
Que mudaria nossa história

E desde o tempo mais antigo, a gente aprende
A enterrar o nosso umbigo e até um dente
E a enterrar no algodão
Até o grão de feijão, feito semente

Tem gente que enterra dinheiro
Na ilusão de que um dia
Venha a chover na nossa horta
E quem sabe então,
Trazida pela tempestade
A sorte bata à nossa porta
A gente ganhe um milhão
Ou talvez a felicidade

A gente enterra o trigo, o alimento
O cachorro enterra o osso
Para comer noutro momento
E sem mesmo saber o porquê
A galinha enterra o milho
Tem gente que enterra o filho
E junto enterra a vontade de viver

Até que um dia
O nosso ciclo se encerra
E sob a forma de poeira que nós somos
Deixamo-nos depositar junto à mãe terra

2 comentários:

Samuel Viterbo disse...

Ah! Ja que agora esta afundando no meio digital renda-se ao twitter e divulgue as publicações lá! @samuelviterbo

Anônimo disse...

Poema lindo, muito tocante!