sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Novas imagens da agressão ao Serra

Ok, Serra, você venceu.
Tinha que ser na Globo que, curiosamente, não havia se manifestado no dia anterior sobre a bolinha de papel, embora noticiasse a agressão.
Ainda assim, a imagem de um segundo objeto atingindo o candidato Serra fala por si mesma.
Estranho apenas que a Globo, ávida para dar respaldo à história da agressão, já se armou logo, antecipando-se a qualquer possível acusação de estar manipulando imagens e etc. E trouxe um perito respeitado, para analisar a imagem de um rolo de fita isolante, ou coisa semelhante, sendo atirada e atingindo a cabeça de Serra.
Assim, não cabe a mim, julgar se o objeto é muito pesado ou não, se rígido e contundente ou não, se capaz de trazer algum tipo de lesão interna ou não.
Compete a mim, como a qualquer cidadão normal, repudiar a atitude covarde e inaceitável em uma sociedade democrática e minimamente civilizada.
Menos mal que Serra estava no Rio de Janeiro, cidade onde as pessoas portam em seus bolsos apenas bolinhas de papel e rolos de fita crepe.
Estivesse em uma democracia mais adiantada, em um país mais sério, por exemplo, como os Estados Unidos, Los Angeles, talvez o governador pudesse ter se tornado alvo semelhante ao que se tornou o candidato Robert Kennedy.

***

Sem ironias, concordo com Jânio de Freitas, em sua última coluna na Folha (dia 21), chega às raias da irresponsabilidade colocar candidatos para fazerem caminhadas em meio a populares, sem qualquer aparato mínimo de segurança, salvo uma meia dúzia de três ou quatro seguranças.
Especialmente em uma campanha que, já pelo tom de ataques e difamações de ambos os lados, mostra o nível baixo a que chegou ou desceu.
E, concordo também com Jânio, em que há sim, culpa dos candidatos e de seus assessores e marqueteiros, para que o nível da campanha tivesse descambado da forma como aconteceu. Porque foram eles, desde o início da campanha, e principalmente depois do primeiro turno, que não trouxeram para o palanque ou as telas de tv qualquer proposta concreta de melhora para o país. Nenhum deles teve a competência ou a preocupação de apresentar e debater projetos, idéias, programas.
Fundaram suas argumentações na lógica da agressão verbal, da transformação de questões de cunho político em questões de fundo religioso, fundamentalista até. Foram eles que partiram ao ataque verbal, preferindo adotarem a tática da calúnia e da difamação. Fazem isso com a certeza da impunidade, porque depois, quando questionados em juízo, apenas se desdizem. Com a maior desfaçatez, alegam que não disseram o que afirmaram, foram mal interpretados e outras lorotas que tais.

***
Voltando ao caso da agressão ao Serra, lembro-me de quando,  em 79, Santa Catarina foi vítima, como o foi também o estado de Minas e outros, de violentas chuvas.
Em entrevista coletiva, em dado momento e para justificar as chuvas e o estrago causado no Estado, o governado recém-indicado, Espiridião Amin, despejou um copo de água sobre sua própria e calva cabeça.
Claro, molhou-se todo, para espanto dos jornalistas presentes. Findo o teatro, veio a explicação: o terreno todo desmatado era causa de tanto estrago. Tivesse mais plantações, como o cabelo na cabeça, a água não teria tanta facilidade de encharcar o solo e provocar os desabamentos e erosão do terreno.
Porque a lembrança? Porque sendo também calvo, o governador sofreria sim um impacto maior em sua cabeça que aquele que sentiria alguém com maior cabeleira. Afinal, o cabelo teria o dom de amortecer o impacto.
E, daí, por não ser, vá lá, careca, não sei da dor do impacto de uma pedra, ou de uma fita isolante, como a mostrada na imagem da Globo.
Apenas acho também interessante e digno de observação que, se não houve ferimento, corte, ou coisa do gênero, pelo menos alguma mancha arrocheada ou avermelhada deveria ficar no local.

***
Não sou médico, mas por ter pele mais clara, toda vez que sou vítima de qualquer impacto, na mesma hora forma-se a mancha avermelhada, arrocheada. Ou seja, fica a marca da contusão, que ninguém verificou ou notou na cabeça de Serra.
Vamos repetir, ninguém mencionou qualquer marca exterior de impacto que tivesse vitimado o governador.

***
Como escrevi acima, cada um sente e reage de forma diferente a um impacto. Que o governador tenha ficado zonzo e decidido fazer uma tomografia, não pode ser objeto de qualquer comentário de um leigo, como eu.
Mas, em um Estado onde a própria Globo vive noticiando a falência do sistema de saúde, e as milhares de mortes de pessoas, sem atendimento, ou vítimas de atendimento deficiente. Em um estado que volta e meia dá manchetes à Globo, de morte nas filas de espera  de atendimento e, inclusive na última semana, da falta de leitos em UTI, da falta de equipamentos para realização de exames, é DIGNO DE NOTA que o candidato tenha sido atendido e feito o exame com tamanha presteza.
Melhorou tanto assim o sistema público de saúde? Ou Serra usou o sistema privado para ter acesso a exame que, em geral, o povo leva meses na fila esperando sua vez para fazer?
Ou o Serra furou fila?
Eis aí, um prato cheio para um debate: como o candidato conseguiu tão rapidamente o que o seu patrão tem negado constantemente. É bom lembrar: foi o próprio Serra que no debate da RedeTv deixou claro que deseja ser um servidor público, alguém a serviço do público,  mesmo que o servidor número 1.

***
Bom, era tão fácil não fazer escândalo e não transformar o exame de saúde do candidato em show de característica melodramática. Claro que perderia espaço na mídia, e não daria assunto para ser repercutido numa campanha que, sem esses subterfúgios naufragaria na incapacidade total dos candidatos de mostrarem porquê querem ser o presidente do país, exceto a ambição pessoal e o desejo do poder pelo poder.
 ***
Mas, preocupado com a saúde do candidato, e ainda, desejoso de vê-lo no melhor de seu estado físico e mental, gostaria de que algum repórter tivesse feito o mínimo que se exige nesse tipo de situação. Apresentar não o perito Ricardo Molina, ou qualquer outro para render um assunto fútil. Mas solicitar o filme ou o que seja do exame, e levar para algum médico especialista fazer uma análise e, até um diagnóstico da gravidade ou não da lesão.
Para tranquilidade de todos nós, povo brasileiro, que não aceitamos agressões físicas na campanha eleitoral e, por esse mesmo motivo, queremos nossos candidatos bem e vivos. Vivíssimos!
Ah: ninguém precisa alegar o sigilo médico para um assunto de saúde pública, ou que deveria ser tratado assim.
***
Nos EUA, desde que se torna indicado pelo partido para concorrer à presidência, os candidatos já têm direito a segurança do Estado. E também têm acesso a todo aparato ligado à questão de saúde, que passa a interessar a toda a sociedade.
Então o exame de Serra deveria sim, ser mostrado e divulgado para toda a sociedade se tranquilizar. Até para que não tivéssemos a possibilidade de repetição, nunca mais em nosso país, de problema  como o que vitimou Tancredo.
É isso.

***
Ou seja, resumindo: Se a agressão houve e deve ser combatida por todos os que têm um mínimo de bom senso, não mudo minha opinião postada ontem, de que ao deixar uma questão tão sórdida e aviltante, transformar-se em mote de campanha, ao invés de caso de polícia como deveria ter virado, o candidato Serra agrediu a seu próprio bom senso. Ou o que eu sempre achei que ele tivesse, razão de meu respeito por ele e seu passado.

Nenhum comentário: