quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Serra e o JN

Não gosto e não assisto, já há muito tempo o Jornal Nacional.
Acho o Jornal da Band melhor, mais informativo e mais imparcial. Não nos trata como Homer Simpson. Não nos idiotiza.
Mas, confesso que, informado da entrevista com a Dilma antes de ontem, e da entrevista de Serra ontem, fiquei em frente à tela de TV.
Primeira constatação minha: a Dilma foi mais educada. Talvez por ser mulher. Ou talvez por uma pretensa postura mais gentil (?), menos agressiva dos entrevistadores para com ela (Bonner em especial, bem diferente da postura raivosa da entrevista no primeiro turno).
Então, por ser mulher, toda vez que ela estava em meio a alguma frase ou a algum raciocínio, e que ela era interrompida, ela parava para escutar a pergunta, a argumentação e com isso, não podia muitas vezes terminar o que começara a falar.

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Serra adotou postura mais agressiva. Não parava e deixou, por umas duas, três vezes, a tentativa de interrupção da pergunta no ar.
Também não sei se os entrevistados iriam fazer  as perguntas necessárias. Cito um exemplo: perguntado pela presença na diretoria da Dersa de seu amigo, Paulo Preto, e da frase/ameaça que ele pronunciou na entrevista concedida à Folha de São Paulo, após o debate em que seu nome foi citado pela primeira vez como tendo recebido e se apropriado de 4 milhões de verbas destinadas a financiamento de campanha, o que disse o candidato Serra?
Disse, não literalmente. Veja bem. Eu fui vítima. Essa é a forma de comportamento do PT, a tática do pega ladrão. E desconversou: se houve a doação eu fui vítima, etc.
E o Bonner insistindo: mas a frase não era uma ameaça. Esse negócio de dizer que não se pode deixar um líder ferido na estrada...
E Serra: pois é, no partido tem gente que gosta, tem gente que não gosta de algumas pessoas. Não foi nenhuma ameaça. Nós já tínhamos desmentido antes daquela entrevista. E saiu para atacar a questão da Erenice, dizendo que o PT e a Dilma quer fazer parecer e crer que todos são iguais. Teve a Erenice, lá na assessoria da Casa Civil, teve o amigo da Dersa no PSDB. Mas ele não teve nenhum chefe de gabinete... e tergiversou.
A coisa parou por aí, para não ficar rendendo.
Mas o que devia ficar claro, o que estava em jogo, não era apenas e tão somente a ameaça.
O que devia ser perguntado era: o senhor acusa a Dilma de não saber, de desconhecer ou de estar desinformada a respeito do que acontecia debaixo de seu nariz. Não é o mesmo o que aconteceu agora?
Talvez Serra até não tivesse conhecimento do tal desvio, mesmo, como alega. Mas não é justamente essa a questão: Como alguém pode desconhecer algo que, por suposto, devia saber???

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Acho que é isso que a Dilma deve jogar claramente na cara do candidato Serra, e dos telespectadores, em algum próximo debate.
De mais a mais, perguntado sobre porque trouxe um tema de fundo religioso para o centro de uma discussão política, misturando as coisas, o candidato disse que foi a sua oponente que trouxe a questão do aborto para o centro da campanha, insistindo em que fora ela, a Dilma, que foi a favor do aborto em declaração feita no ano passado, e agora mentindo, se manifestando contra.
Ora, o que fez o casal entrevistador? A rigor, nada, insistindo apenas na questão de mistura de temas religiosos com um Estado laico e reafirmando a questão de saúde pública do tema aborto.
E o Serra teve a desfaçatez de falar de sua formação religiosa, carola mesmo, desde criancinha. E falou que foi o PT que estava pregando a criminalização de quem estava contra o aborto.
Total inversão da questão. Descriminalizar um tema e um procedimento, não significa, por óbvio, transformar em criminoso o que se posiciona contra.
Mas, o casal Simpson ouviu, não insistiu e pareceu que apenas perguntou para levantar a bola para que o Serra pudesse entrar chutando.

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Desisti de ver a entrevista. Mas, depois, lendo trechos dela publicados no site G1, vi que mesmo ultrapassando o tempo, e independente da tolerância dos apresentadores, o candidato terminou com aquela frase que se transformou em bordão, do vamos juntos, braços dados, coração leve, e que tais.
Lembrei-me do Afif, do juntos chegaremos lá, em 1989. E fiquei imaginando o Serra repetindo gestos com a mão (ele já "dá" os braços, afinal de contas, ou faz um arremedo do gesto).
Repetindo uma época em que ele ainda era de esquerda e, provavelmente, achava ridículo o gesto e a frase que agora encampa.

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Como disse o Lula, a velhice é mesmo uma m....
A pessoa nega tudo que acreditou na vida. E torna-se bombeiro.
Antes o fogo e o vigor ensandecido de um Plínio, que a experiência acumulada e a mente embotada ou corrompida do ex-professor esquerdista, que um dia foi o Serra.
Esse que está aí, não chega a ser nem sombra do que eu vi, na Unicamp.

Um comentário:

Unknown disse...

Não estou entendendo o propósito de uma campanha eleitoral política do nosso pais, o que deveria está em foco nas entrevistas e debates entre os candidatos é as questões sociais, o que estamos vendo é um ringue que a cada passo do final vão se dando ´´socos`` para a tentativa de um locaute técnico antes do dia 31, mas eles esquecem que a decisão está na mão do povo e não adianta nada essa ´´babuseira`` de Elenice e 4 milhões sendo que o sentido da decisão está em proposta de melhoria do Brasil, assim espero.