sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Final de campanha

Finalmente termina, na data de hoje, a campanha eleitoral que foi considerada a pior e a de mais baixo nível dos últimos pleitos em nosso país.
Alguns hão de se lembrar da eleição de 89, a primeira eleição direta para presidente do país, depois de 25 anos de obscuridade e ditadura.
Naquela eleição, coincidentemente, o tema do aborto pautou a campanha, ao menos em sua etapa final, introduzida pelo candidato caçador de marajás: Collor de Mello.
Na oportunidade também, a Globo tentava e tinha êxito em manipular a opinião pública, o que o fez em várias oportunidades.
Até hoje, tenho dúvidas a respeito da novela que passava na ocasião, e que quebrava recordes de audiência: "Que rei sou eu?"
Até hoje me pergunto se a novela foi propositadamente escrita e lançada para discutir as questões que faziam parte do discurso do candidato dos Marinho, ou se a emissora apropriou-se do conteúdo e, de carona no sucesso, começou a pressionar para que, no decorrer da campanha a novela se confundisse com as peças publicitárias de Collor de Mello.
A edição do debate final, feita por Alberico Souza Cruz e transmitida para os lares dos Simpsons desse Brasil afora, ilustra de forma primorosa o quanto o mal-caratismo de uns, somada à ingenuidade ou indiferença de outros pode causar estragos.
Só para sacudir a poeira da memória, naquela oportunidade estava começando a surgir, com grande destaque no cenário nacional, uma empresa de pesquisa de opinião pública, a Vox Populi que tinha, entre seus sócios proprietários, um cientista político aparentado com Collor.
Guru da campanha collorida, Marcos Coimbra e as pesquisas da Vox tornaram-se alvo da ira dos petistas, que promoveram um ato de vandalismo, invadindo e tentando depredar as instalações da empresa.
***
Vinte e um anos depois, tempo que marca até legalmente a conquista da maioridade - e, dir-se-ia, do juízo, a campanha eleitoral foi, em grande parte, pautada pelo tema do .... aborto.
Os grandes veículos de comunicação de massa utilizaram-se de todas as armas possíveis para influenciarem e tentarem manipular a opinião pública.
Temas já tornados frios pelo tempo, foram tirados do armário e requentados sem qualquer pudor. Jornais de grande circulação chegaram a publicar, como se verdadeira, uma ficha criminal de autenticidade duvidosa.
Confrontado pelas evidências de falsidade do pretenso documento, ao invés de vir a público retratar-se,  com no mínimo o mesmo destaque da publicação original, o jornal candidamente admitiu apenas que não podia assegurar a autenticidade da ficha.
Revistas semanais, sempre muito atentas na defesa de seus interesses particulares, os quais costuma tenar apresentar como se fossem os interesses de todo país, procuraram, de toda forma, trazer para a luz, questões que já deveriam ter sido, desde que conhecidas há muito tempo, como caso de polícia, como o caso dos dossiês do fogo amigo peessedebista. E, de quebra, a quebra de sigilos fiscais.
E, mais uma vez, apenas que acusada agora de estar  manipulando pesquisas e favorecendo ao PT e sua candidata, Marcos Coimbra e a Vox são vítimas da ira e de ataques dos correligionários do partido oponente.
Ou seja: parece-me que 21 anos não foram suficientes para que o sistema eleitoral evoluísse e que as campanhas se transformassem em espaço de debate sério de propostas e projetos de soluções para os problemas de nosso país.
Ou então, parece que neste período, não apenas o problema da inflação foi debelado, mas todos os demais problemas brasileiros, o que esvazia o conteúdo das campanhas, cada vez mais dominadas pelos marqueteiros - esses cerebrais senhores dos artifícios, mas pouco afeitos ao conteúdo de pólvora dos fogos.

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