domingo, 24 de outubro de 2010

Tudo que é sólido desmancha no ar

Ao chegar hoje ao supermercado para fazer as compras do que ainda faltava, fui chamado pelo João.
Queria que, na volta, eu pudesse responder-lhe uma pergunta. Mas queria ter tempo para formular melhor sua dúvida.
Em minha volta, foi direto: a frase tudo que é sólido desmancha no ar, que ele leu no Manifesto tem conteúdo filosófico ou econômico?
Expliquei-lhe, em breves palavras e na medida que é possivel, parado em pé na esquina onde João vende suas revistas e jornais, o conceito de dialética. E ilustrei com exemplos de economia, em especial, a questão tão cara a Marx, da classe capitalista que, quanto mais desenvolve suas forças, mais ajuda a desenvolver, também - e por isso mesmo, os germes de sua posterior derrocada.

Mas eu podia usar como ilustração a agressão ao Serra, no Rio de Janeiro. Aquela da fita crepe, ou outro objeto qualquer, até agora o melhor exemplo de OVNI jamais identificado.
Porque é inegável que, entre o peso de 0,5 quilo, alegado pelo candidato, ou os 2 kg mencionados pelo seu companheiro de chapa, o candidato a vice Índio, há um distância tão grande quanto a distância entre a bolinha de papel e a imagem digitalizada, gravada, decomposta quadro a quadro e analisada pelo professor de jornalismo gráfico, no Rio Grande do Sul.
Está lá no blog de Paulo Henrique Amorim, o Conversa Afiada, para quem quiser ver: o objeto não identificado que acerta a cabeça de Serra não vem de nenhuma direção antes de alcançá-lo, nem vai para nenhuma outra direção depois do choque com a cabeça do candidato.
Em suma: analisado os quadros anteriores e imediatamente posterior, o que se chocou contra o candidato aparece apenas, e tão somente, no quadro em que há o pretenso choque. 
Está aí o exemplo vivo de que tudo que é sólido, mesmo que seja uma fita crepe, pode se desfazer no ar. Pelo menos em campanha eleitoral no Brasil.
Ainda bem que o ombudsman da Folha admite que o jornal mesmo, e ele pessoalmente, não está convencido que a imagem captada pelo celular do jornalista da própria Folha mostrasse realmente qualquer objeto.

Ainda na Folha há um texto excelente de um professor de física có smica. Ali ele comenta a descoberta de uma nova galáxia, tão distante de nosso planeta  - mais de 13 bilhões de anos-luz, que pode ser que a luz, agora captada seja de uma galáxia que já não existe mais. Que já se desfez, no ar. Ou já se transformou em outra coisa.
Ao ler a nota,  lembrei-me de Jostein Gaarder, filósofo que ganhou destaque por seu famoso O mundo de Sofia. Em seu livro, ao final, discute exatamente essa mesma questão: a de que, dado que a luz leva tempo para chegar a nossos olhos, podemos estar vendo hoje, no universo, coisas que já existiram - e mandaram sua energia para nós -  a muitos anos atrás, e já inexistentes hoje.
O que me remeteu a Shakespeare: há mais coisas entre o céu e a terra, que supõe a nossa vã filosofia.

Um comentário:

João Constantino disse...

Bom , eu sempre achei essa frase uma obra de arte, que poucas pessoas sabem o que significa aquilo. Na verdade sempre quis acreditar em Marx , mas o tempo foi passando é até dialética da frase contrariou ele mesmo. Perdi minhas esperanças no comunismo para acreditar em coisas mais simples como por exemplo viver e deixar que a própria frase tivesse sentido, mas isso é muito complexo para ficar explicando e até confuso.Então valeu Paulinho.